O Centro de Referência Carioca do Samba, criado em 1999, publicou nesta semana a primeira edição da revista eletrônica da organização, que tem o objetivo de celebrar e defender o samba no Rio de Janeiro. O grupo formado por compositores, músicos, pesquisadores e apreciadores do samba, são responsáveis por promoverem shows, debates, oficinas musicais, rodas de samba e projetos sociais nas comunidades cariocas.
Na edição que comemora os 20 anos da organização, o Carnaval Capixaba foi destaque com um caderno especial titulado “Onde começa o carnaval do Brasil” (pág. 13). O material conta com imagens dos desfiles feitas pelo fotógrafo Samuel Vieira, foto de capa com a rainha Fernanda Figueredo e texto de abertura por Iamara Nascimento, diretora do Viva Samba. O texto é uma mistura de enredos que as agremiações levaram para o Sambão do Povo neste ano (confira íntegra do texto no final da matéria).
Confira a revista Carioca do Samba:
revista-cariocadosamba“O Carnaval do Brasil começa aqui” (texto por Iamara Nascimento)
Há sessenta e quatro anos um sambista capixaba inventou de trazer um ritmo diferente exportado do Estado do Rio de Janeiro para os morros da deliciosa Ilha do Mel. Desse ritmo nasceu à escola de samba Unidos da Piedade, contrariando alguns grupos, o que é normal. O movimento deu tão certo que hoje a Cidade conta com dezenove agremiações ramificadas de onde mora o samba e distribuídas em três grupos com três Ligas diferentes. Outrora foram quase quarenta escolas.
Tudo são flores?
Não, mas os resultados sempre são satisfatórios na medida do possível. O capixaba tem o dom de ser otimista. Bairrista? Muito. Chega dar “gastura”. Fazer carnaval com escassez de recursos sempre foi um quesito quase que obrigatório. Em tempos sombrios onde o Estado laico está longe de ser respeitado, uma cidade conservadora como Vitória consegue agregar foliões apaixonados que não medem esforços para estarem na avenida “pocando” tudo. O trabalho é árduo, faça chuva, faça sol.
As escolas de sambas se estenderam por toda região, mas o grande desfile acontece na Grande Vitória.
Não temos um sambódromo, mas um Sambão do Povo inaugurado em mil novecentos e oitenta e sete com
total inspiração na obra do Niemeyer. E porque não dizer que o carnaval capixaba da gema carrega tendências cariocas ainda hoje com muito orgulho?
Durante os dias 21, 22 e 23 de fevereiro de 2019. Isso mesmo. O carnaval da terra de Maria Ortiz tem a peculiaridade de começar uma semana antes. É comum ouvirmos do capixaba que nossa festa momesca é do Luiz Paulo Veloso Lucas, (então Prefeito da Cidade que mudou a data no final dos anos 90) e o oficial é de Deus. Se for sagrado ou profano a população carnavalesca agradece.
Nestes dias de folia quem foi ao Sambão do Povo sorriu, chorou, se emocionou, protestou e aplaudiu muito
também, porque nosso carnaval “pocou”. Se você não foi ao Sambão ou não ligou a televisão preferindo chupar
“mixirica” ou ficar esticado que nem “taruíra” na parede perdeu de agraciar a maior manifestação popular e cultural da Cidade.
Heróis? Sim!
“Também vi um Universo multicor, a fantasia replicou a vingança e a justiça”. A Venenosa de Maruípe saiu da avenida com a cabeça erguida e alma lavada. Em tempo de amar a Barreiros levou seu brilho para abrir caminho com amor dando espaço para a Rosas de Ouro exaltar a cultura chinesa E o Caveira que virou Santo deixou os “versos do poeta a cantar no toque do acorde final” porque é uma tradição de peso. Salve São Torquato. Chega Mais porque o Amazonas sempre será o futuro do Brasil no sorriso e abraço negro da Tradição Serrana. E a Pedra Menina apareceu para mostrar o que é carnaval.
Chegou o que Faltava na passarela. Se a Império de Fátima é caçula ou não, não deram mole, o ticumbi e folia de
Reis tiveram que sambar e mostrar o Mar de Conceição da Barra num dever de gente grande.
E o verde e rosa da Imperatriz se transformaram no azul das águas que choram contra um mar de lama que virou o nosso Rio Doce. Mas os Mal Ditos gatos da Piedade não miam, reivindicam paz nas comunidades e no samba, porque existe uma Mocidade que precisava passar com o seu sorriso.
E a Pega no Samba pediu passagem para a D. Lenira mostrar com quantas bailarinas se forma um balé clássico que saiu do palco para girar na passarela momesca capixaba.
E pra quem achava que a Águia não daria enredo, a Boa Vista apresentou seus vigilantes e acreditou que em sua comunidade ainda existem amigos fiéis da furiosa.
A família Imperiana deu o seu grito em defesa a todas as mulheres, fez careta pro machismo, denunciou, e mostrou que leões não nascem sem leoas. Seu rosa brilhou forte de fato.
A coruja viajou nos delírios do Bispo e pintou e bordou seu manto imaginário para cobrir a Nação de Jucutuquara.
Será que é loucura?
Sim!
Nós capixabas somos todos loucos por carnaval de escolas de samba e carregamos uma “Vitória abençoada e ungida pelo Espírito Santo”.
*Iamara Nascimento é diretora do site Viva Samba, que promove anualmente o Prêmio Faisão de
Ouro, em Vitória—ES—é funcionária pública municipal.
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