Você ja foi a Bahia? Não? Então vá!
Oi Bahia, ai ai
Bahia que não me sai do pensamento
Ary Barroso, compôs na Baixa do Sapateiro sem nunca ter ido a Bahia. O compositor recebeu o convite e: Partiu! Capital soteropolitana! Pronto! Nesse dia foi instituído o dia do samba. Oh Sorte! A data? 02 de dezembro de 1960
Porque cinquenta e nove anos depois ainda existe uma parte da sociedade incomodada com as comemorações dessa vertente com maior conotação na cultura popular? O samba é uma manifestação de resistência? Sim! A Lei da vadiagem está aí desde o Brasil Império, sendo renovada na ditadura do Estado Novo, digo, Era Getúlio Vargas. E o sambista resiste.
Nelson Sargento escreveu assim: “Samba, negro forte, destemido, foi duramente perseguido. Na esquina, no botequim, no terreiro…”
É sabedor que o samba praticamente nasceu na casa da Tia Ciata. Negra baiana, quituteira, rezadeira, mãe de santo, organizadora de agremiações carnavalescas, líder comunitária e incentivadora da cultura popular. Érico Vital Brasil e Schuma Schumaher citam no livro Dicionário Mulheres do Brasil que dona Hilária batista de Almeida também teve participação na composição coletiva de Pelo Telefone e outros sambas, motivo que causou o rompimento da amizade com o Donga. Importante dizer que, segundo alguns pesquisadores, a Tia Ciata reunia em sua casa/terreiro para grandes pagodes toda classe social, desde prostitutas e trabalhadores braçais, desempregados à grandes doutores, políticos, empresários e funcionários do alto escalão do Governo. Em sua casa não tinha distinção de cor da pele ou até mesmo credo. Martinho da Vila disse: ” Na minha casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe,todo mundo samba“. Isso é o significado do samba oriundo de matrizes africanas.
Aqui na Ilha de Guananira nosso samba nunca foi nenhum favo de mel extraído das nossas belas matas, muito menos dos rochedos. A resistência segue firme. A lei da vadiagem se tornou estrategicamente em Disk Silêncio, O sambista ou quem faz promoção da cultura popular não vai preso, mas é multado caso alguém se sinta incomodado com o barulho do batuque e rufar dos tambores. Ainda ouvimos pessoas dizerem que sonham em participar de uma escola de samba, mas não conseguem por conta das famílias conservadoras que ainda consideram os redutos perigosos e pobres. Seguimos em frente na resistência.
Nossa cidade é sambista. Temos uma média alta de grupos de sambas que se apresentam, temos um mini sambódromo, ( Sambão do Povo), que carrega o nome do Walmor Miranda, o rei Momo considerado mais famoso da história do carnaval capixaba. Temos três Ligas de Escolas de Sambas. O que nos falta? Sustentabilidade social e econômica.
O dia do samba aconteceu e foi muito comemorado por uma parcela da sociedade civil. As Ruas Sete de Setembro e Maria Saraiva não se calaram, mas a escola de samba mais antiga ainda está amordaçada pela Lei que pode não mais ser da vadiagem, mas de alguma forma proíbe o sambista de entoar seu canto de liberdade.
O reduto onde nasceu o samba está amordaçado. O silêncio tomou conta do Morro porque lá não se pode mais batucar, mas acreditamos que um dia teremos políticas que favoreçam nossa cultura e os perseguidores acreditarão que onde o samba está a população é mais feliz.
Desde que o samba é samba que sofremos intolerância, mas o sambista não é de brincadeira e não se deixa vencer.
O Portal Viva Samba nasceu timidamente no dia dois de dezembro de dois mil e seis através dos sambistas Reinaldo Nunes e Armando Chafik, mais a frente esta escrevinhadora recebeu o convite para fazer parte do projeto. Hoje somos uma equipe sem fins lucrativos formada por oito integrantes comprometidos com o samba capixaba. Nesses 13 anos nunca deixamos de cobrir o carnaval, apesar da vaidade de alguns gestores que tentaram nos impedir continuamos com nosso trabalho e nunca iremos prejudicar o trabalho de ninguém. Claro que cada um de nós temos nossas escolas do coração, senão não seríamos sambistas, mas a imparcialidade e ética tanto nas críticas quantos nos elogios é nossa linha de frente. Nosso objetivo nunca foi dar furo de reportagem. Queremos passar para o sambista informações verdadeiras e necessárias para o crescimento do nosso carnaval.
É uma satisfação saber que a premiação do Faisão de Ouro além de ser sucesso adquiriu credibilidade pela seriedade do nosso trabalho. Com a equipe do Portal Viva Samba eu acredito que possamos fazer um carnaval melhor sempre. Obrigada Reinaldo Nunes, Armando Chafick, Gustavo Fernando, Patrick Tranco, Fernanda Figueredo, Jackson Mello e Edson Guidoni.
Feliz aniversário pra nós e obrigada sambista capixaba, você é nosso maior presente.
Termino este texto em comemoração ao dia do samba com ela que me passou o anel de bamba. Ela que me ensinou como desfilar na passarela da vida defendendo a bandeira do Samba com dignidade. Mãe! Sei que você não me abandona, sei que você sempre está no meio do povo espiando, me protegendo e um dia nos encontraremos na dispersão. Obrigada Dona Dulce! Você foi a Ciata baiana mais linda do nosso carnaval.
VIVA SAMBA!
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