“É hora de acender no peito a inspiração. Sei que é preciso lutar com as armas de uma canção…”
Samba é coisa de mulher
Em tempo! Findou-se mais um ano de desfile das escolas de sambas. Chegamos ao mês de março, mês onde não necessariamente as águas são obrigadas a descerem para fecharem o verão, mas foliões fazem reflexão do desfile que passou, reclamam das justificativas, comemoram os dez recebidos, prometem fazer melhor no ano seguinte. Enfim, março também podemos lembrar que tem mulheres atuante no samba. E daí? O samba não começou na casa da Tia Ciata?
Até bem pouco tempo o lugar da mulher no samba era reduzido apenas ao Departamento Feminino, onde as tias cuidavam de todo o trabalho braçal para realizarem os eventos, arrecadação e organização das quadras. O que não é menos importante dentro de uma agremiação. Hoje outros espaços estão cada vez mais ocupados e diga-se de passagem, a mulherada esta brilhando. Haja visto que a Jucutuquara sob o comando da experiente diretora Marinilce Pereira, onde seu departamento tem um número de mulheres em grande maioria obteve a terceira maior nota em evolução e harmonia, quesito que pertence a sua pasta. E nem precisa dizer da sabedoria que a sambista e equipe tiveram para resolverem algumas demandas durante o desfile em tempo hábil para não atrapalharem o andamento da escola.
Se exaltamos uma estrela que sobressaiu, quando o seu ponto Gê foi atingido e a levou ao orgasmo intenso no quesito samba, não implica que as outras estão sendo desmerecidas.
Um rio de emoção
E como não falar das mulheres sem citar a ala das baianas? Vejo esta ala como a fertilização das agremiações. Elas representam o útero que abriga tantos bambas que estão espalhados pelas redutos de samba. Elas representam um Rio de Amor, assim foram denominadas na Unidos da Piedade. Acompanhei a luta da diretora Ritinha para coordenar a ala, mas na avenida a representação do Rio São Francisco estava em seu estado pleno. Senti ali a ovulação do samba. Senti o desabafo na fortaleza das águas em forma da ala mais feminina do carnaval. O poeta disse assim: ” não deixe sua vaidade acabar com meu leito. me preservar é preciso, pois eu mereço respeito. Repensar mais os seus atos, repensar mais seus conceitos…”
Divina Luz
A única escola capixaba que passou na avenida em 2020 com uma presidente mulher, também teve um enredo homenageando uma das feministas mais conhecida no Brasil e no mundo, a Luz d’el Fuego. De família tradicional capixaba a Dora Vivacqua chegou a ser internada em sanatórios por não preencher um padrão a altura de sua classe social. Zezè Gegenheimer presidente da escola, com toda sua timidez e simplicidade precisou se virar nos trintas nos quarenta e cinco do segundo tempo, pra uma guerreira como ela era apenas mais uma batalha que deveria ser vencida e foi, uma vez que seu carnavalesco Vilson Vilaflor apresentou um quadro de saúde grave precisando ser internado. A força e luz divina que a presidente obteve parecia algo sobre natural. A pessoa que é de estatura baixa, digo, não preenche a média brasileira, se apresentou na frente da escola com uma segurança e fortaleza do tamanho de um jogador de basquete campeão da NBA. Segurar a marimba não é para qualquer uma mesmo.
Primeira dama é só um detalhe
Larissy Soares, primeira dama da Novo Império desde o inicio do primeiro mandato que é pau pra toda obra dentro da agremiação. Coordena a ala das passistas, está presente em todos os eventos, recepciona todos na quadra, visitas as coirmãs, e no dia do desfile estava lá na passarela ao lado do seu presidente e amor. Isso que é bonito.
A Negra é Bella
Sim! Isabella Azevedo com toda sua atitude de empoderamento feminino passou como um furacão nas três escolas que desfilou. Se convencer a pessoa a apostar é quase uma arte, a nega com seu poder de persuasão (nome da sua fantasia), envolveu o sambão inteiro na sua arte de sambar desfilando na Chegou o que faltava. Na Mocidade Unida da Glória não teve persuasão porque o instinto animal(nome da fantasia) baixou como uma mãe defendendo sua cria ou em busca da sobrevivência. Para ela que mata um leão por dia, acredito que não houve dificuldades na performance da personagem. E finalizando na Imperatriz do Forte de São João sua escola do coração e da comunidade onde nasceu e mora, a poderosa veio toda trabalhada na riqueza representando o ouro de Minas gerais. Essa menina é ligada no 220W, só pode.
Chão com a Musa Maior
E vocês acham que eu iria esquecer da destaque de chão mais fofa do carnaval? Claro que não. Ela, uma menina que está próximo de completar oitenta aninhos dessa vez exigiu dos dois carnavalescos das duas escolas que desfilou no grupo especial, ela não é fraca, uma fantasia mais leve,tipo, mais pelada com que ela ficasse mais a vontade para evoluir. Dona Oscarina Barcellos, Embaixadora das baianas da Mocidade Unida da Glória deu um show de aparecidice também na Imperatriz do Forte e nesse entremeio de uma escola e outra a musa ainda teve tempo de subir até a cabine da Rede Gazeta para ser entrevistada, e eu vos digo, ela não aparentou sinais de cansaço. É verdade esse bilhete.
10 para a gordinha?
Na pancada da marvada ela foi lá e cravou três notas 10, porque uma só era muito pouco. Eita que a Venenosa de Maruípe sibilou que foi uma beleza. A Porta Bandeira Alana Marques recebeu críticas por estar acima do peso. Junto com o seu mestre sala Weskley receberam o convite para defenderem o pavilhão da Andaraí, tradicional agremiação do bairro Santa Martha. A dupla aceitou o convite e com seu bailado irreverente brincaram com seriedade na passarela. Pareciam flutuar. Vale lembrar que no quesito eles foram os únicos capixabas a conquistarem as três notas máximas. Mulher plus size no samba também é capaz e deve ser respeitada.
Elas também são ritmistas
A cada ano o número de mulheres nas baterias está aumentando e com isso os cargos também. Juliana Barcelos diretora de bateria da Chega Mais, além de desfilar em outras escolas, pelo terceiro ano consecutivo assume a oficina de tamborins que são ministradas no MUCANE- Museu Capixaba do Negro situado aqui na Ilha do Mel. Posto que sempre foi prioridade dos homens. Heloísa Helena que também agrega a bateria de outras agremiações é diretora de cuíca na Andaraí, no qual junto ao mestre Kaio Amorim e equipe contribuiu para o campeonato. A bateria Puro Veneno foi a única escola do grupo de acesso A que alcançou as notas máximas. Segundo a nossa mestre cuiqueira, o número de mulheres capixabas interessadas por este instrumento que também é feminino só vem aumentando. Quem toca cuíca é mais feliz
Bruna Medeiros
A musicista tem a Andaraí sua escola do coração e paixão, também desfilou nas baterias da Pega no Samba e São Torquato. Nos intervalos de uma escola e outra passou com bloco Não é Não! Com o BatuqDelas. Uma iniciativa do governo. Nosso Estado ainda carrega um índice muito alto de feminicídio não podemos esquecer de dar o grito também no carnaval. A Bruna começou a desfilar desde 2001 e atua como cavaquinista desde 2004 e pelo quarto ano brilha no carro de som da Império de Fátima. Hoje nossa estrela do cavaco é referência. Uma conquista que não é fácil para as mulheres do samba capixaba.
Carrega essa Cruz
Ela não é apenas uma coreógrafa. Ela é a mãe, ela tem sempre um carinho a mais para os integrantes da comissão de frente e entorno. Ela é a pesquisadora de campo e da literatura. Ela está em todos os eventos da escola, ela vai pra atrás do balcão servir, ela ajuda a confeccionar fantasias. E ainda tem tempo para ser a única a conquistar três notas máximas em seu quesito e em escolas diferentes. Em 2017 na Unidos da Piedade e em 2020 na Boa Vista. Seu nome? Marcia Regina Cruz! Presente!
É de rainha que se fala?
Todo ano é o mesmo burburinho. Sinal verde para a Mocidade Unida da Glória…! Como será que a rainha vem? Qual a cor da sua fantasia? Quem confeccionou? Será que ela emagreceu? Acho que ela está grávida… E ela vem… Vem… Vem… Ela vem lacrando, soberana e poderosa. Não importa quantos anos ela tem na frente da bateria. Ela vem dona do seu lugar de direito porque nasceu rainha e é filha de rainha. O sangue azul corre em suas veias, mas o coração é vermelho Mocidade. Ela é o próprio trovão, ou você sente medo ou se encanta com um barulho desse. Fernanda Figueredo que nas horas livres trabalha, estuda (está cursando a terceira graduação), namora, cuida da família, além de ser rainha, brilha de musa na Salgueiro, faz parte da equipe Viva Samba e é apresentadora do Troféu Faisão de Ouro. Deus me livre de fofocas!
No mês que é dedicado as mulheres pelas suas lutas, batalhas e conquistas a escrevinhadora desse blog dedica esta coluna as todas as bambas capixabas. Cada uma dentro da sua peculiaridade, amor por sua escola, dedicação. Mulher no samba é a força que não deixa o samba não morrer.
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