Ficha Técnica
Enredo 2019 – Pega no Samba
“Lenira Borges: Uma vida para a dança”
Carnavalesco
Júnior Pernambucano & Douglas Palluzzo
Sinopse
Mulher admirável, Lenira Borges sempre trabalha com tenacidade, devagar,
investigando, abrindo portas para que cada um encontre sua expressividade.
Mestra de muitas gerações de bailarinos, ela percebe o caminho dos
movimentos e ensina a formar frases com eles, encadeando um gesto ao outro em
busca dos infinitos encontros do corpo e da alma.
“Realizo-me todos os dias através do desenvolvimento artístico que cada uma
das minhas alunas apresenta. Orgulho-me de ter como alunas pessoas que estão
praticando essa arte em diferentes lugares do mundo”, afirma ela, com a certeza de
que valeu muito a pena dedicar sua vida à dança.
Expressar-se através do corpo com seus movimentos e vibrações é mais que
se deslocar num espaço. Toda linguagem corporal, sobretudo quando este corpo está
ritmicamente envolvido pela dança, transformou-se numa arte expressiva
desenvolvida ao longo dos séculos e que conquistou uma dimensão social relevante
em diversas culturas.
A dança, por natureza, é uma arte do movimento e da expressão. Ela nasceu
da manifestação das emoções primitivas, da comunhão mística do homem com a
natureza. Dançar demonstra ser uma habilidade intrínseca a condição humana. E, na
escola da vida, sempre houve quem estimulasse a aprendizagem desse ofício, o
exercício duma arte tão exigente e, ao mesmo tempo, tão sublime.
Lenira Borges, cuja trajetória foi traçada na ponta dos pés, está eternizada na
nobre galeria de quem dançou para comunicar alegrias, dramas, emoções, sonhos…
por isso merece respeito, por isso recebe nossa homenagem.
Nascida em Porto Alegre, deu seus primeiros passos no balé, aos 12 anos. A
condição imposta pelo pai para viver bailando, como fez durante décadas, foi de
jamais subir ao palco numa apresentação sem atuar como profissional. Assim sendo,
estudou com uma das grandes mestras coreógrafas do Brasil, Tony Seitz Petzhoid.
Professora por vocação lecionou em cidades como Curitiba, Rio de Janeiro,
Petrópolis, Teresópolis e Três Rios. Mas elegeu o Espírito Santo como sua definitiva
morada.
Tornou-se pioneira ao criar, em Vitória, nos idos anos 60, um espaço de
formação em dança, academia Lenira Borges, Ballet Studio, trazendo a metodologia
da Royal Academy of Dancing (Londres) ao grupo experimental da dança do Espírito
Santo. Contribuiu, então, de maneira decisiva para desenvolver a arte da dança no
Brasil, não só pelo pioneirismo no ensino profissional nesse campo, mas também pela
formação de inúmeros artistas cujos passos foram guiados pelo seu reconhecido
talento. Hoje é aclamada como maior referência em nosso Estado por todos aqueles
que fizeram dessa arte uma importante atividade de vida.
Lenira Borges participou de vários espetáculos e de grandes festivais.
Dançando, ela viveu o sonho de viajar por todos os repertórios e espetáculos clássicos
do balé executados pelos quatro cantos deste planeta.
Lá vai a menina bailarina iluminada pela ribalta dos palcos para interpretar
Giselle, obra romântica dividida em dois atos, considerada o mais popular balé
clássico executado no mundo. Conduzida pela sedução musical, encontra com A Filha
do Faraó. Em espetáculos seguintes, interpreta as loucuras de Dom Quixote e
incorpora a amada Dulcinéia.
Viajando nesse sonho dançante, Lenira conhece pitorescos lugares como
Rússia, França, Itália e Escócia onde se deparou com uma história linda, La Sylphide,
e à noite enxerga a deusa da primavera fazer O Despertar de Flora, mas também
vive a tragédia individual na relação com o marido em Sylvia.
Com riqueza e suntuosidade, Lenira pegou carona nas asas do Pássaro de
Fogo, em La Bayadére. Também viu dois jovens apaixonados jurando fidelidade
diante do fogo; com muita dança corporal e um ritmo sedutor, embarcou com
Scherazade pelas Mil e uma Noites delirantes. Participou de várias festas típicas da
Rússia em Les Noces. Mas adorou mesmo viver épocas natalinas para dançar o
clássico Quebra-Nozes. Interpretou Romeu e Julieta, vivendo o amor trágico entre
dois jovens dançado em três atos e treze cenas. Na Rússia, junto com a Imperatriz
Catherine II, conheceu o La Fille Mal Gardeé.
Na eterna luta entre o bem e o mal, mergulhou no Lago dos Cisnes, o balé
dramático. E, como num passe de mágica, saltitou na pele das princesas mais
apaixonantes das histórias infantis como A Bela Adormecida, Cinderela, A Bela e a
Fera, dentre outras. Em The Fairy Doll, umas das produções mais bem sucedidas do
final do século IX, Lenira vira uma boneca fada pertencente a uma famosa loja que,
ao anoitecer, se torna mágica e faz as demais bonecas ganharem vida, executando
um belíssimo bailado. Junto com a Revolução Francesa, ela ainda viveu o espetáculo
Chama de Paris.
Para um “gran finale”, pouco antes de as cortinas se fecharem anunciando o
término dessa onírica viagem dançante, nossa estrela, capixaba de coração, cuja
carreira como bailarina teve início aos 12 anos, tal qual Luiz XIV, o poderoso Rei Sol
francês do século XVII, que amava dançar e tronou-se um grande bailarino também
com 12 anos, baila no ballet da corte acompanhada pelo menino monarca
promovendo belo espetáculo nos suntuosos salões do Palácio de Versalhes.
Lenira Borges viajou mundo afora bailando através dessas obras clássicas
consagradas, sem precisar sair, por um instante sequer, do cenário real onde
dançava. Para tão ilustre mestra, artífice desta arte admirável, existirá sempre um
palco e uma plateia póstuma para enaltecer cada espetáculo onde está imortalizada
com seus graciosos movimentos de cabeça, braços e delicadas movimentações de
pernas que permitiam seu corpo voar ao saltitar com elegante leveza na ponta dos
pés.
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