Ficha Técnica
Enredo 2022 – Unidos de Jucutuquara
“O povo inteiro vai saber, é Jucutuquara que vem lá”
Carnavalescos
Vanderson César e Jorge Mayko
Autores do Enredo
Vanderson César e Jorge Mayko
Introdução
A Unidos de Jucutuquara honrosamente dedica-se a cantar e contar um pouco sobre o seu lugar. É hora de olhar para dentro e se aconchegar nos fios que teceram o destino deste território que abriga a agremiação. E é saudando e pedindo licença a todas e todos que pavimentaram o caminho e fundamentaram os alicerces desta Escola que seguiremos.
Sinopse
Manhã de um dia qualquer do ano de 1972, em Jucutuquara. É meio-dia, o sol em seu ponto máximo confirma. Soa o apito da fábrica de tecidos que fica ali, na entrada do bairro. O som que regra a rotina de trabalho e de toda a vida da comunidade agora ressoa diferente, me leva a viajar no tempo. É o tempo quem compõe o destino e a quem dedico o meu cantar[1].
É hora de voltar numa Vitória colorida[2], em que predominava o verde. Retomo a um tempo em que essa região ainda é habitada pelos nativos, com o índio e a natureza em perfeita união[3]. Uma Vitória cercada de córregos e emoldurada pela natureza do lugar, um verdadeiro paraíso, eterno e abençoado[4]. Onde estamos? Não muito longe de onde, no futuro se instalará a fábrica, que foi nosso ponto de partida.
Vislumbro a Pedra dos Olhos, a guardiã das memórias locais. Antes mesmo do tempo ser tempo, ela já estava lá. Em sua honra, o nativo batiza o lugar: Jucu-itaquera, que pode significar “pássaro do buraco na pedra”. Afinal, desde muito tempo já se via por estas bandas, nos olhos da coruja a luz. Imponente, a pedra testemunhará toda história que ouso contar.
O tempo não para[5], ele é implacável. No horizonte, brotam lavouras onde os negros escravizados labutam. Algodão, cana e mandioca movimentavam a economia da fazenda. Qual é seu nome? Fazenda Jucutuquara!
Em uma das colinas ergueu-se a Casa Grande. De lá, o barão, que recebeu tal honraria do imperador, escreveria com a mais bela pena o nome dos Monjardim na história.
Passam-se anos, décadas, vira o século. Vai gente, vem gente, a paisagem muda.
Vai o bonde e vem o bonde. Chegam operários, chegam estudantes. O apito que outrora me trouxe aqui de onde vos falo marca rigorosamente o início, o meio e o fim de mais um dia na fábrica. Dos anúncios de promoção no mercado ao silêncio do Cine Trianon, Jucutuquara, antes a Jucu-ita-quera indígena, após se tornar fazenda, se forma um bairro, ou melhor dizendo, uma verdadeira nação!
E é hora de seguir e cantar com devoção. A crença e o sagrado forjadas em Jucutuquara não somente removem e sobem montanhas[6], mas adentram casas, lares, ruas e corações.
“Caboclo, pegue a sua flecha, arme o seu bodoque e vamos trabalhar…” Ao fundo, palmas, tambores e louvores. Pelas ruas, procissões, rezas, festas, devoção. Do terreiro consagrado a Santa Clara de Assis e ao Caboclo 3 Gangas à Igreja erguida ao Santo flechado, todos seguimos com as bênçãos de Dona Maria Coroa cantando em oração[7].
E na guerra do cotidiano[8], eu e os viventes oferecemos nossas almas aos amores e paixões. A paixão nacional encontra terreno fértil nos corações de Jucutuquara: fogos, batucada, palmas, gritos apaixonados de gol, alegria, abraços e sorrisos. O estádio construído no bairro se torna símbolo e cenário da glória do futebol capixaba. O Capa-Preta deixou saudades por aqui.
E assim sigo escrevendo, pelas tortas linhas do tempo, tal qual aqueles pequenos sonhadores[9]. Os encontros nas mesas de bar que, diga-se de passagem, são os melhores da cidade, as conversas, risadas, batucadas… Mais uma rodada, garçom! Do Cearense ao Rock, passando pelo David, o papo é um só: Carnaval!
As Belas do Rock a desfilar pelas ruas encantam e dão o gosto do que é brincar Carnaval. Estão ouvindo? Novamente soa o apito. Os ponteiros do relógio marcam o momento do retorno para o lar. Finda-se mais um dia de trabalho e nossa viagem no tempo. Passado e presente são uma grande ilusão, no futuro entenderemos a questão[10].
Na vista da Pedra dos Olhos, nos arredores do solar Monjardim, um pouco depois da Fábrica e da pracinha, está nascendo a Unidos de Jucutuquara. O cotidiano deste bairro, que é uma nação, testemunha o sonho, os amores, as paixões.
É chegado o momento de colocar o bloco na rua e cantar os orgulhos do nosso lugar. O siri estampa o estandarte, mas logo abrirá o caminho para a coruja fazer seu ninho, aconchegando-se no pavilhão verde, vermelho e branco e em nossos corações.
Das ruas do bairro ao centro. Da corda aos holofotes das grandes avenidas por onde passará. De bloco a escola de samba. Chega o momento de debutar e sentir saudades do nosso bloco[11]!
E crescerá, e crescerá, como eu cresci[12], como tudo por aqui cresceu, mas sempre conservando o amor dos tempos de pescador que outrora debutou.
Venham, que terá arrastão[13]!
Na mistura da torta, mostrando nossa mistura, saboreamos com maestria o campeonato. Nos sábios olhos, da Coruja, contemplei[14] os encantos e mistérios das noites onde protegido por suas asas desbravamos caminhos e descaminhos alçando novos voos e revoluções. Reafirmar os valores da Cultura e história capixaba trouxe a imponente Vitória. O Brilho que está no ar[15] fará cantar os encantos mil da joia do Rio Doce ou por sua vez levada aos encantos da montanha sagrada[16], a Nação cantou o Caparaó capixaba. E de um Canto de Vitória as glórias de um Relicário de um povo, vamos a Penha agradecer em romaria[17] de onde a Mãe do alto do penhasco coroa e abençoa toda uma nação.
Mas ainda não é o final. É apenas a cinquentenária noite que o corujal[18] passará pela avenida e mostrará que nosso surdo é sucesso geral. Voltamos e voltaremos sempre, para multiplicar o que se fez em outros carnavais. E quando o surdo que é sucesso geral ressoar, o povo inteiro vai saber: é Jucutuquara que vem lá![19]
[1] 2011 – “Dá um tempo!”
[2] 1998 – “Retorno: Carnaval, a alegria está de volta”
[3] 1999 – “Guananira – Era uma vez uma Ilha do Mel”
[4] 2007 – “Caparaó Capixaba, os encantos da Montanha Sagrada”
[5] 2011 – “Dá um tempo!”
[6] 2009 – “Convento da Penha: O relicário de um povo”
[7] 2014 – “Oh Bahia, ó”
[8] 2013 – “A centenária noite do Sabiá da Crônica: entre pássaros, palavras, chiquitas e baianas”
[9] 2013 – “A centenária noite do Sabiá da Crônica: entre pássaros, palavras, chiquitas e baianas”
[10] 2011 – “Dá um tempo!”
[11] 1987 – “Debutei! Saudades do meu Bloco”
[12] 1987 – “Debutei! Saudades do meu Bloco”
[13] 1990 – “Na mistura da torta, a nossa mistura”
[14] 2002 – “Da escuridão a luz… a noite seus encantos e mistérios”
[15] 2006 – “Os tambores de Jucutuquara soam nas terras dos Botocudos. Linhares a joia do Rio Doce”
[16] 2007 – “Caparaó Capixaba, os encantos da montanha sagrada”
[17] 2009 – “Convento da Penha: O relicário de um povo”
[18] 2013 – “A centenária noite do Sabiá da Crônica: entre pássaros, palavras, chiquitas e baianas”
[19] 1998 – “Retorno: Carnaval, a alegria está de volta”
Bibliografia:
- A llha de Vitória que conheci com que convivi – Délio Grijó de Azevedo
- Centro de Vitória Habitação Social, ontem e hoje – Luciana Nemer
- Jucutuquara – Coleção Elmo Elton – Sandra Daniel – Publicação da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Vitória
- Escola de Samba como fator turístico “Da escolha do enredo ao samba no pé” – Dione Ferolla Varejão
- Escritos de Vitória – Paisagens
- Escritos de Vitória – Cinemas
- Vitória Física – Adelpho Monjardim
Entrevistas consultadas:
- Bernadete Ladislau
- Dione Varejão
- Dilma Castro
- Edson Tadeu Cruz
- Genivaldo Monteiro
- Marcos Vinícius
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