Na última segunda- feira (13), a LIESES (Liga Espírito-Santense das Escolas de Samba) realizou um Mega Ensaio Técnico no Sambão do Povo, com as escolas de samba do Grupo Especial do Carnaval Capixaba. E as agremiações fizeram a sua parte e proporcionaram aos espectadores um grande espetáculo. Mas como tudo não poderia ser perfeito, duas importantes escolas ficaram de fora do evento: Pega no Samba e Unidos da Piedade. E, assim, perderam a oportunidade de divulgar o trabalho desenvolvido e treinar os quesitos para o desfile oficial. Mas eu não tenho dúvidas. Se depender de tudo que vi e ouvi nos últimos dias, possivelmente, teremos no Carnaval 2017 o melhor Carnaval Capixaba de todos os tempos.
Aguardadíssima, a Novo Império entrou no Sambão do Povo para provar que é sim uma das favoritas ao título do Carnaval Capixaba 2017. A escola se apresentou organizada e com um grande número de componentes. A comissão de frente, coreografada por Andrezinho Castro, demonstrou estar bem ensaiada, e apresentou uma coreografia de qualidade, mas confesso que “grande parte dos segredos” só serão desvendados no desfile oficial, essa foi a sensação deixada em mim após a “rápida” passagem da comissão pelas duas primeiras cabines julgadoras. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sandro Souza e Amanda Ribeiro, que considero um dos melhores do carnaval capixaba (se não for o melhor na atualidade), infelizmente decepcionaram. Sandro deu o seu show de sempre, com uma apresentação vibrante e repleta de carisma, já Amanda, senti que estava incomodada, insegura e longe das suas melhores apresentações, já que não efetuou os giros da forma ideal (posteriormente fui informado que a porta-bandeira teve problemas com o salto de sua sandália). A bateria da escola, também conhecida como Orquestra Capixaba de Percussão, se apresentou com a ousadia de sempre. Mas ressalto a desnecessária manobra de entrada no recuo. Se a escola realmente pensa em título, não deveria arriscar perder preciosos pontos em seu quesito mais conceituado.
O samba – Nota 9.9
O samba da Novo Império é sem dúvida alguma um dos três melhores do ano. Empolgante, a obra transcreve a essência do enredo com riqueza e ótima melodia. O refrão de cabeça é poderoso, mas ainda assim, me causa estranhamento (e preocupação), o trecho “Quem vem lá! É o Novo Império, é muito sério”. Fico pensando, como que uma escola que está no meio da avenida canta esse tipo de trecho. Acho muito, muito inusitado. Além disso, como participei do concurso de samba, na ocasião, verifiquei que a obra não atendia todas as demandas abordadas pelo tema (como ignorar a presença crucial dos índios e a tradição das velhas benzedeiras na condução do enredo). Mas, pelo que entendo, a sinopse original pode ter sido facilmente adaptada ao samba, algo não tão incomum em desfile de carnaval. O refrão do meio é outro “achado”. Ótimo e empolgante (Bate ô tambor/ Ô deixa a gira girar/ Canto pro meu orixá, axé). A segunda parte da obra mantém a qualidade melódica e ótimos versos. A Novo Império possui um sambão para auxiliar na briga pelo título do Grupo Especial.
O ensaio técnico da Unidos de Jucutuquara serviu para demostrar que apesar da grave crise financeira que assola a agremiação, a escola ainda é uma potência do carnaval e possui um “chão” poderoso. Um dos erros cometidos durante a apresentação foi a falta do canto, principalmente no primeiro setor, que também apresentou graves problemas na evolução, criando diversos “buracos” na avenida. A comissão de frente, coreografada por Jorge Mayko, pouco apresentou da coreografia oficial. Pelo visto, somente no desfile de sábado que vamos descobrir o que um dos melhores quesitos da agremiação irá revelar em seu desfile. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Gessya e Juliander, realizaram uma apresentação superior a do ano passado, onde conseguiram três notas 10 dos julgadores, e mesmo com os movimentos perfeitos, ótimo sincronismo e domínio da técnica envolvendo o quesito, me incomoda a frieza da apresentação. Falta emoção e vibração ao casal. A atuação do carro de som foi muito boa, com destaque para a exuberante atuação de Kleber Simpatia, um dos melhores intérpretes do carnaval capixaba. E com relação a bateria de Mestre Serginho, que estreia no cargo, só posso dizer que melhorou muito em relação aos últimos anos. Uma apresentação segura, ousada e com desenhos melódicos bem definidos.
O samba – Nota 9.8
A Unidos de Jucutuquara reeditará em 2017 o enredo “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, que fala sobre o meio ambiente e a falta de preservação. O samba é assinado pelo jornalista Francisco Velasco, e para este carnaval, sofreu algumas alterações. Apesar de soar como um samba datado, e utilizar uma melodia genérica, a interpretação de Kleber Simpatia é tão impressionante que conseguiu dar uma nova vida a obra, que para muitos, não passa de funcional. O refrão principal (composto de dois refrões), é bem “chiclete”. Particularmente gosto do andamento do samba, da letra (totalmente compatível com o enredo) e, como já havia dito, da interpretação de Kleber. Apesar de possuir poucas variações melódicas, o samba é funcional, e com exceção de alguns versos “de gosto duvidoso” (“O fogo não é para “queimar”), acho a obra competente.
A atual bicampeã do carnaval se credenciou ainda mais ao tricampeonato após passar o “rolo compressor” que foi o seu ensaio técnico no Sambão do Povo. O samba e o carro de som funcionaram muito bem. A bateria do Mestre Junior Caprichosos realizou uma apresentação irretocável (repleta de ousadia e criativas bossas), e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Kleyson Sensação e Layli Rosado, se apresentaram de forma técnica, segura e elaborada. Com isso, acredito que o quesito não seja problema para as pretensões da agremiação. A comissão de frente, coreografada por Monika Queiroz, fez uma apresentação com ótima coreografia, repleta de predicados e elaborada. Mas também deve apresentar novidades e surpresas no desfile oficial.
O samba – Nota 9.9
A MUG irá se apresentar no Sambão do Povo com o enredo “A MUG dá as cartas!”, e o samba se inicia com um competente refrão principal (“É você Mocidade, meu amor/ Selei nossas vidas com um beijo meu/ Se o tempo escreveu não vai apagar/ Dá as cartas pra emocionar”). A primeira parte da obra possui boa construção de letra, apesar de uma melodia genérica. Já o refrão do meio é repleto de atrativos (“Mistérios no ar, simbologia/ Quem vai decifrar a magia”). O segundo trecho do samba é sem dúvida alguma a melhor parte. Para um enredo tão rico, a MUG possui um bom samba. E apesar de não ser perfeito, possui dois excelentes refrões e alguns versos maravilhosos (“Lembra dos meus tempos de menino/tantos pedidos a Papai Noel/mandei mensagens de amor/ um coração desenhei bem no cantinho do papel).
A escola não participou dos ensaios técnicos.
O samba – Nota 9.8
O enredo desenvolvido pela Pega no samba em 2017 é “Nas taças da história… O Pega brinda o néctar da humanidade”, que essencialmente fala sobre o vinho e seu contexto histórico. Primeiro devo reconhecer que o casamento entre o samba e a bateria do Mestre Jorginho está perfeito, e essa união deve render ótimos “frutos” no desfile oficial. O samba se inicia com um bom refrão, mas chamo atenção para a letra da obra, repleta de ótimas soluções: “que felicidade é nossa raiz”, “vinho, és divino sangue que traz vida”, “harmoniza com o tempero do samba”, “Dis”tinto” é rico seu paladar”, “nobre sabor, um acalanto encorpado”. Um dos destaques da obra é o ótimo refrão do meio (Dá no chão do meu terreiro, aqui vingou/ harmoniza com o tempero, do samba/ Dis”tinto” é rico seu paladar/ Videira igual não há). O samba não possui uma melodia diferenciada, ficando mais próximo de uma obra funcional do que criativa. O grande destaque é a finalização da segunda parte do samba, essa sim, de melodia aprimorada (é festa, delírio do povo/ prospera enfim tamanha emoção/ vem no calor que embala o coração).
A escola não participou dos ensaios técnicos.
O samba – Nota 9.8
Para este ano, a escola faz a seguinte pergunta: de onde vem a vontade de pintar a cara? E a resposta é uma viagem pela cultura humana através do enredo “No mundo e na vida, de cara pintada com a Piedade na avenida”. O samba consegue transcrever em letra e melodia todas as nuances do enredo. E apesar de não gostar das opções utilizadas na letra do refrão principal, (Hoje “kiss” me pintar pra te seduzir/ O meu baton já deu um danado tititi), entendo as referências. Outro ponto positivo é o andamento, tendenciosamente empolgante, e que combina perfeitamente com a bateria da agremiação, uma das melhores do carnaval capixaba. O refrão do meio, que também é “pra cima”, me agrada. E a segunda parte do samba mantém a qualidade da obra, com boas opções de letra e interessante melodia. Apesar de faltar momentos diferenciados melodicamente, ainda assim, a Piedade possui um samba que pode contribuir para um grande desfile da agremiação.
Apesar da chuva, e do horário que iniciou o ensaio técnico, próximo das 2 da manhã, a Boa vista realizou um ótimo ensaio técnico. O samba, o melhor do Carnaval Capixaba 2017, rendeu e foi amplamente cantado pelo público e componentes da agremiação. A comissão de frente, coreografada por Rodrigo Carvalho, deu um verdadeiro show. Coreografia rica, muito bem ensaiada, criativa e hipnotizante, sem dúvida alguma, a melhor apresentação do quesito entre todos os ensaios técnicos. Já em relação ao primeiro casal Vanessa e Bruno, que dançam juntos pela primeira vez, uma ótima surpresa. Realmente “deu samba” essa união. Apesar de ser perceptível a diferença da apresentação de Vanessa com Diego, a parceria realizou uma apresentação dotada de todas as obrigatoriedades do quesito. A bateria da Boa Vista, comandada pelo trio Douglas Jacaré, Matheus Bressaola e Gustavo Mascarenhas, realizou uma ótima apresentação, muito superior a do ano passado, quando estrearam na agremiação, mas ainda faltam alguns detalhes para a bateria conseguir a sonhada nota 10. Após a saída do recuo, pouco a frente do segundo modulo de julgadores, a bateria acabou errando na retomada de uma bossa (entre as várias executadas pelos ritmistas), mas nada de diminua o grande trabalho realizado pelo trio de mestres.
O samba – Nota 10
Este ano a Boa Vista aposta na história dos ciganos com o enredo “Sob a luz do luar, guiada pelas estrelas, Boa Vista em alma cigana. Optcha!”.E posso garantir, a escola possui o melhor samba de enredo do Carnaval Capixaba em 2017. A letra é ótima e os refrões empolgantes. O samba tem tudo para sacudir o Sambão do Povo e auxiliar a Boa Vista na briga pelo título do carnaval. O refrão principal é um daqueles que não sai da cabeça: “Na palma da mão eu leio o destino/ Na palma da mão vou te revelar/ Lá vem Boa Vista em alma cigana/ O povo vai cantar”. A primeira parte é correta, e assim como o restante da obra, de ótima letra. Agora, o que falar do impecável refrão do meio. Lindo, lindo, lindo: “Bateu castanhola no tom da magia/tocou a viola de andaluzia/É carta, é ouro, é bola de cristal/ Tem festa amor, é carnaval”. O segundo trecho do samba é um achado. Melodia deliciosamente repleta de ‘subidas e descidas que realmente fazem bem aos ouvidos. Um sambão. E entre tantos pontos positivos na obra, faço questão de destacar meu trecho predileto: “É a magia está no meu olhar/ Pelas estrelas eu vou me guiar, Sigo na fé em cada oração, Hoje em nossa tenda a voz do samba ecoou/ venho mostrar o meu valor ooo! Opatchá! A minha águia chegou”.
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