Todo mundo que está no carnaval tem uma escola de coração. Ter ou escolher uma agremiação para amar é muito fácil, difícil mesmo é aceitar o que não a levaram ao campeonato. No Rio de Janeiro pessoas queriam entender o motivo pelo qual a Vila Isabel não desceu para o Grupo de Acesso. Eu também...
Não estou a fim de fazer comentários sobre o desfile de Vitória porque não vejo necessidade, as justificativas estão ai sambando nas redes sociais para todo mundo ver (ponto positivo para a LIESES). Se as notas foram justas ou injustas “Inês é morta”. Neste momento seria a hora das diretorias de suas respectivas agremiações se organizarem para discutirem os quesitos que não foram bem agora, para melhorarem no futuro, isto é, em 2015. Digo isso com a experiência que tivemos em 2008 na Unidos da Piedade, onde saímos do último lugar do Grupo de Acesso com sete escolas e conquistamos o quarto lugar do Grupo Especial com quatorze escolas em 2009.
Fala-se muito no crescimento do carnaval capixaba, eu prefiro dizer que estamos mais exigentes no espetáculo oferecido. Retornamos ao Sambão do Povo em 2002, são treze desfiles onde a Unidos de Jucutuquara conquistou seis títulos, se consagrou tetra campeã, a única com campeonatos consecutivos do novo milênio, a Mocidade Unida da Gloria conquistou quatro campeonatos e a Independente de Boa Vista três. De lá pra cá, dentro de minha percepção a Jucutuquara diminuiu seu carnaval abrindo mão para a escola de Cariacica brigar com a co-irmã de Vila Velha. Já está na hora de aparecer uma nova dona do título. Reza a lenda que a Família Imperiana que acaba de chegar no Grupo Especial vem com toda força. Alô gente boa da Piedade a hora é essa hein! Vitória está precisando trazer o troféu para a capital.
Recebi neste ano o convite de um órgão da imprensa para desfilar em todas as escolas do Grupo Especial, pois queriam fazer uma matéria comigo. Fiquei deslumbrada, pois desfilar naquela passarela me deixa em estado de puro êxtase, sem contar que adoro aparecer. Mas a ficha caiu imediatamente, não tenho mais vinte aninhos e nem joelhos para sair correndo da dispersão para a concentração, teria que ter um transporte, o que seria impossível naquele local, e quando coloco reticências sobre o crescimento do carnaval refiro-me a logística oferecida ao Sambão.
Está insuportável para nós foliões desfilantes dividirmos aquele espaço com transeuntes, ambulantes, espectadores, batedores de carteiras, faisões, costeiros, cabeças, calçados etc. Eis o principal motivo que não aceitei o convite em desfilar em todas as escolas. A situação está tensa até para quem desfila e quer voltar para os camarotes ou arquibancadas. A empresa que ganha a licitação para as empilhadeiras não tem noção do que é um carro alegórico e que nesse carro são transportados pessoas com fantasias quase sempre grandes, na dispersão a situação ainda foi pior os carros foram levados para um terreno que era pura lama e claro as empilhadeiras ainda menores que as da concentração estavam lá com seus funcionários super simpáticos que tentavam fazer o máximo diante das nossas dificuldades em descer, tinha até uma retroescavadeira cheia de lama que se aproximou do meu carro e o condutor na tentativa de ajudar e adiantar o serviço pediu para que eu entrasse, (será que ele me confundiu com entulho?), tive medo. Faltaram pessoas das escolas, pelo menos das que eu desfilei para dar um suporte melhor aos destaques na dispersão.
Como decidi não comentar sobre quesitos, descreverei alguns detalhes que foram pontuais durante o desfile. A começar pelos integrantes da harmonia das escolas. Atenção pessoal vocês não estão ali para aparecerem na foto, quando vamos fotografar principalmente as madrinhas/rainhas, destaques ou carros sempre aparece alguém na frente da máquina, teve uma determinada escola na sexta feira que aparecia quase toda diretoria a procura de um flash. Essa observação foi unânime durante conversas entre o intervalo de uma escola e outra na sala da imprensa.
A principal função de um diretor de harmonia é conduzir a escola na avenida, mas em Vitória parece que isso é o que menos importa na maioria das escolas, os que carregam radinho no ouvido então... Às vezes o problema está na frente deles, mas a preferência é falar pelo rádio. Depois vem a bomba na planilha de notas e não sabem o que aconteceu.
Outro problema gravíssimo que a LIESES e a TV responsável pela transmissão tem de resolver com urgência! Diante da cabine do primeiro jurado havia um cinegrafista com seu assistente atrapalhando toda evolução das comissões de frentes e dos casais de mestres salas e portas bandeiras. Não seria o caso de uma câmera suspensa?
O corredor destinado à imprensa para divulgar todo o espetáculo de carnaval virou passarela de políticos, beldades e até jurados paralelos ao júri oficial. Colocaram também lixeiras naquele espaço, o que foi desnecessário, pois quem gera o lixo são o pessoal dos camarotes. Sem contar que quando fantasias despencavam na avenida diretores jogavam tudo nesse corredor para fugirem das penalidades.
Estamos na era dos faisões, que por sinal são belíssimos e muito mais fáceis de trabalhar, mas a ostentação é tamanha que teve escola gastando a carta de crédito toda com os benditos e esqueceu de comprar material para acabamento dos carros e alas. O excesso das belas penas também fez alguns costeiros perderem o efeito na avenida, mesmo que tenha gente que jura que tudo foi programado para que caíssem. Mas o da rainha do carnaval carioca também caiu na segunda-feira, ainda bem que a bonita não estava comprometendo nenhuma escola.
O ápice da cafonice é ver destaques mostrando plumas e pedrarias da cintura pra cima e a genitália ou parte dela a mostra com os movimentos de pernas na avenida, efeitos que chamam atenção para o ridículo mesmo se o corpo tiver malhado, bombando, sarado. Toda fantasia deve ser confortável, em bom estado e com leitura digna para o setor destinado, senão a caneta desenha um nove ponto alguma coisa nas mãos do julgador.
Sabemos de todas as dificuldades que nossas escolas passam para colocar o carnaval na avenida, barracões a céu aberto sem estrutura digna para um ser humano trabalhar, mão de obra precária e cara, falta de local para a maioria fazerem seus ensaios e tal. Sabemos que é obrigação do corpo de bombeiros fiscalizar. Um dia de barracão ou quadra fechados provoca um grande prejuízo e compromete nosso espetáculo. Fica a dica as autoridades que adoram passear no Sambão do Povo no dia da festa. Dêem uma passada pelos barracões em movimento e passem pelo menos um dia por lá fazendo trabalho voluntário que vocês conhecerão a verdadeira realidade do carnaval capixaba.
E VIVA SAMBA!
* Iamara Nascimento é funcionária pública, foliã apaixonada pelo carnaval e pela Unidos da Piedade, Conselheira Municipal de Cultura e Colunista do Site Viva Samba.