Não gosto de analisar desfile de escolas de sambas, até porque não adquiri nenhum diploma nessa área, logo não sou especialista. Mas sempre alguém me aborda perguntando se eu não escreverei algo sobre o assunto. Acho que isso é apenas um consolo para os que recebem elogios e não conseguem nota máxima dos jurados, e a ira dos que recebem críticas por alguma falha decorrente do setor de sua responsabilidade.
 
Hoje com as mídias sociais acabamos tomando conhecimento de algumas peculiaridades que acabam sendo folclóricas, prefiro classificar desta forma. Peculiaridades essas que tem gente pedindo pelo amor de Deus pra ganhar um prêmio, outros sabem que não tem nenhuma chance de ganho, então jogam pedras nos organizadores e nos ganhadores, acho isso tudo muito natural, pois faz parte do contexto de vaidades que engloba a festa momesca.
 
A frase: “perdemos pra nós mesmo” é sinônimo de não admitirmos que alguém mereceu mais!
 
Perdem-se porque alguém passou melhor e mereceu, a melhor nota. Assim como acredito que nenhuma escola entra na avenida com 10 e vai perdendo durante o desfile, pra mim, todas entram zeradas e vão conquistando os pontos merecidos na passarela do samba. Desfile de escola de samba é uma prova onde somos os alunos e os julgadores são os professores que estão ali nos avaliando. E como todo colégio tem sempre alguém para nos dedurar, se você aparecer indevidamente do jeito que deve ser, a coordenação te f@#&, e tome punição.
 
Não concordo que o grupo de acesso deva ter a mesma mídia do especial, se queres brilho trabalhe, lute, e corra atrás pra ser TOP. Senão continuarão no sobe e desce pela comodidade de passar na avenida sem um pingo de capricho para fazer um bom carnaval, as chamadas escolas “ioios”. Mas faço um adendo para a Grêmio Recreativo Escola de Samba Chega Mais, escola visitante que mostrou serviço dentro de suas possibilidades e fez um desfile interessante exaltando Adoniram Barbosa, o pai do samba Paulista. Maravilha!
 
O desfile da sexta feira me surpreendeu em alguns detalhes, ora positivos, ora negativos. Tradição Serrana merecia descer para o Acesso (como de fato aconteceu) sem dó nem piedade, apesar daqueles descendentes de imigrantes colocarem toda emoção na avenida. Se a escola trabalhasse um pouquinho mais poderia ter feito um desfile melhor.
 











 
O dia que a Novo Império acordar o gigante adormecido que hiberna naquela comunidade, ai sim, veremos a verdadeira família imperiana passeando na avenida com sede de ser campeã. A escola ficou um tanto quanto perdida no enredo e a “osquestra capixaba de percussão” não conseguiu mostrar o que eles realmente sabem fazer. Quem sabe um enredo que mexa e envolva a comunidade não seja a solução imediata?
 













 
A Andaraí deu um salto em seus carros alegóricos, talvez os melhores de sua história. Ver aquele tanto de riobranquense desfilando foi um show de bola. Enredo de time de futebol não é um fator que me agrada, mas o carnavalesco desenvolveu de uma maneira que eu gostei, infelizmente parecia que os diretores de harmonia estavam meio que perdidos na avenida, as alas ficaram desencontradas e fora de ordem, a escola apresentou inúmeros buracos e isso atrapalhou o andamento da agremiação. Uma pena...
 













 
A Pega no Samba deu a tacada de mestre: enredo leve, bem desenvolvido, envolveu a comunidade. Não apresentou nenhuma novidade além de um dever de casa técnico e claro. A propósito, o carnavalesco Alex Santiago já mostrou seu ponto forte em termos de trabalhar enredo e minha intuição é que se ele continuar seguindo este viés logo, logo poderá ser campeão do carnaval capixaba, isto é, se ele for acompanhado de uma boa equipe, pois carnavalesco sozinho não tem condições de fazer.
 













 
São Torquato gostei do conjunto que a escola apresentou, mas houve problemas também na evolução, destaco o interprete Ricardinho, apesar d’eu esperar um pouco mais do samba na avenida, a diretora de carnaval Edilene mostrou um excelente serviço, mesmo com o falecimento de sua mãe quatro dias antes do desfile. Isso me faz acreditar na teoria do Laíla, que abaixo do presidente esse cargo de diretoria de carnaval é a autoridade, desde que o mesmo tenha autonomia para trabalhar e saber fazê-lo com profissionalismo.
 













 
No sábado não assisti o desfile, por desfilei em duas escolas, vi os vídeos depois, o que não é a mesma coisa, mesmo assim vou fazer meus comentários de maneira um tanto diferente. Pela primeira vez me senti envergonhada na concentração de minha escola do coração, Unidos da Piedade. Envergonhada não pela escola, mas por mim. Simplesmente por eu chegar na concentração, pronta, maquiada e ver se aproximando o horário e nada de bateria, de comissão de frente, de mestre-sala e porta-bandeira e como sempre os carros ainda sendo confeccionados, amigos que pagaram fantasias e não conseguiram desfilar. Ver o desespero e tristeza dos ritmistas, e das crianças que formavam o segundo casal, diretores de harmonia tentando fazer o máximo que podiam, aliás, parabeniso o diretor Silvio Martins, sempre sereno e educado para que o caldo ainda não derramasse mais, meus parabéns também a sua equipe. Acredito que o trabalho de vocês contribuiu para que a escola continuasse desfilando no pelotão de elite. Mas o desespero e tristeza foi uma imagem que me marcou e muito. Não que isto nunca tenha acontecido, mas desta vez eu estava ali vendo esta situação de outro ângulo e sabia que nada mais havia de ser feito, a não ser a garra e a coragem daquele povo que luta para que a mais querida nunca deixe de desfilar. Em minha opinião não existe inocentes e nem culpados, portanto não acuso e nem isento ninguém de suas responsabilidades. É fato que na nossa escola cobramos muito mais e apontamos também mais erros porque queremos sempre a perfeição. Tomara que no próximo ano a escola tenha recuperado estas pendências e consiga vir para a avenida pra disputar o campeonato, pois já está passando da hora dos seus amantes gritarem é campeã, e esta nova geração precisa sentir este gosto ao vivo e não mais através de histórias passadas. Fica a dica...
 














 
A Imperatriz do Forte ultimamente é a simpatia do carnaval capixaba, sempre com bons enredos que caem na graça do povo, seus carros simples conseguem passar a leitura perfeita para a plateia, mesmo com toda dificuldade que a escola tem em seu barracão.
 














 
Até agora não comentei nada sobre samba enredo porque para ser sincera não consegui encontrar nenhum samba em 2013 que me arrepiasse e nem um que eu pudesse dizer: este é o samba do ano. Mas a Boa Vista conseguiu dar um banho de marketing. Como o samba era muito bom e a garantia do 10 era óbvia, começaram as especulações. Mudou-se o refrão a galera foi pra avenida cantou e o samba aconteceu! Parabéns Mestre Picolé, Mingal, Xumbrega e sem esquecer a comunidade que tem orgulho de ser Cariacica. Mais uma vez a comissão de frente da escola vem apresentando excelente trabalho, parabéns Mauro e equipe.
 


 










Mocidade Unida da Glória, o Leão acreditou, correu atrás e mostrou a quem desdenhou que a cidade francesa de Dunkerque não daria samba, pois bem, a gringa deu samba e campeonato. Viva La France! Mesmo com carros menores, a escola foi fiel à qualidade do acabamento e o primeiro casal Diego e Vanessa bailaram com total intimidade defendendo o pavilhão da escola. Vi no vídeo a perfeição de alguns movimentos desses meninos, merecido 10.
 














 
Na Unidos de Jucutuquara aconteceu justamente o oposto do que passei na Piedade cheguei na concentração e a escola estava tranquila, sem desespero e sem correria. Enredo perfeito. Confesso que as fantasias não me agradaram, achei que faltou alegria, mas o fato delas estarem vestidas dos pés à cabeça e não despencarem na avenida fez com que as boas notas prevalecessem, parabéns à equipe do barracão leve, controle de qualidade faz a grande diferença, mesmo com poucos recursos. O samba fácil e bastante poético fez com que toda a escola cantasse com vontade. A bateria foi perfeita, o mestre Genivaldo deu o “up grade” que precisava, tiro o chapéu para este profissional que acreditou e fez acontecer na avenida. Porém quem fez a verdadeira diferença no corujal foi o pessoal da harmonia que sob o comando da competente Marinilce que delegou funções para um grupo de mulheres dedicadas e comprometidas com o sucesso da agremiação. Faltou o luxo e glamour que estamos acostumados, principalmente dos carros alegóricos, mas confesso mais um fato: foi o melhor desfile que fiz na Nação de Jucutuquara até hoje.
 













 
No carnaval também acontecem certos modismos que nunca podem faltar, até porque fazem parte do glamour. Nos anos 70 as perucas, veludos e lamês eram a riqueza, nos anos 80 e 90 prevaleceram as plumas de avestruz e bordados em paetês juntamente com miçangas, agora são faisões, muitos faisões com strass. Mas vai ai uma dica principalmente para as rainhas e madrinhas que acompanhadas dos ritmitas e intérpretes são as que ficam mais tempo na avenida e em movimento constante. Pois bem, a fantasia primeiramente deve ser confortável e que tenha pelo menos alguma identificação com quem está vestindo. Este ano a coisa não foi tão bonita não, era nítido o desconforto de algumas pessoas que pareciam que estavam numa verdadeira “via crucis”. O fato da fantasia ter sido cara e rica não é sinônimo de ser chique e bonita. Vamos deixar a penitência para a quaresma.
 
E VIVA SAMBA!
 


















* Iamara Nascimento é funcionária pública, foliã apaixonada pelo carnaval e pela Unidos da Piedade, Conselheira Municipal de Cultura e Colunista do Site Viva Samba.
PERDEMOS PRA NÓS MESMOS! SERÁ?
por Iamara
Nascimento
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