Chegou a hora de abrir os envelopes do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos Acadêmicos Imperatriz Estação Primeira Dona Dulce. Original né?
Não sou especialista, mas tenho formação e embasamento nesta área, pois vivi e ouvi muitas coisas, e como nosso amigo e compositor Francisco Velasco diz em um dos seus sambas que: “A história é pra contar, valorizar nossas riquezas...” Então... Vamos lá contar a história de uma sambista que viveu com o samba em suas veias.
Concentração: Seis de fevereiro de mil novecentos e trinta e dois. Reza a lenda que ela adiantou sua chegada, pois sua mãe estava pronta para desfilar no bloco Amarra o Burro quando Dona Dulce resolveu dar o ar da “graça” impedindo e atrapalhando toda a equipe de desfilar, incluindo a parteira Dona Augusta Conti. Era dia de carnaval...
Cronometragem: Em minha opinião acho que ela terminou seu desfile antes das expectativas porque eu ainda precisava um pouco mais dela junto de mim para me acalentar e me dar colo, mas como minha análise é feita com a emoção do coração, tenho que admitir que o tempo utilizado por ela foi muito bem aproveitado durante cada minuto de sua vida, e quem decide tanto este quesito quanto o da concentração é o nosso “Superior”, pois somos apenas simples mortais na história de nossas vidas e seguimos apenas o roteiro que o destino nos deu. Agora vamos abrir os envelopes do livre arbítrio.
Comissão de frente: O sorriso foi seu cartão de visita, mas a coreografia que ela utilizou para driblar as “tempestades” que a vida lhe enviava de vez em quando foi fundamental para levantar aplausos e impressionar a comissão julgadora do mundo cruel, lembrando que a mesma nunca se esqueceu de saudar seu público e apresentar a escola onde aprendeu os ensinamentos para sua sobrevivência, trazendo assim a garantia do dez.
Mestre-sala e Porta-bandeira: Seu mestre sala foi escolhido num baile do Clube Chapéu do Lado, casaram-se e tiveram oito bandeiras de modelos diferentes, onde conduziam muito bem, sabendo a hora de apresentá-las para receberem aplausos e beijos e também guardá-las para acertos de contas (hora que o chicote aparecia, risos). Em sua vida também sempre teve espaço para amamentar e acarinhar as bandeiras das co-irmãs, e olha que não eram poucas heim! Em alguns momentos nós que éramos da parte biológica ficávamos até com ciúmes.
No quesito Fantasias, Alegorias e Adereços ela era demais. Adorava um acessório e sua vaidade em estar sempre bonita e arrumada era intensa, gostava de fazer de sua casa um verdadeiro carro alegórico e o seu Abre Alas era sempre receber os amigos de seus “pavilhões” com muito carinho, só quem a conheceu é que pode julgar esta pasta.
Na Harmonia, estar de bem com o mundo fazia sempre a diferença, algumas vezes aconteciam alguns estremecimentos, mas a sintonia dela com os semelhantes sempre chegavam a algum acordo no final da história.
O tempo não a deixou parada no passado, sua “Evolução” foi gradativa, tanto que foi Miss e frequentou também a Universidade Federal num curso exclusivo para a Melhor Idade com direito a carteirinha e tudo. Como ela se achava...
No “Conjunto” da obra o que ficou foi sua alegria irreverente de ser e viver, sempre com alto astral, e assim ela fazia as composições dos “Sambas de enredos” para a vida.
E o seu “Enredo” foi simples, bem escrito e também bem desenvolvido onde ela soube segurar muito bem em alguns momentos de dificuldades.
A “Bateria” do seu coração foi pura emoção no dia em que seu irmão Mestre Edu chegou em nossa casa com uma fantasia de baiana pela primeira vez para que ela pudesse desfilar na “na Mais Querida”, mas o “dez” neste quesito só chegou quando a própria pisou na avenida com tal vestimenta, aí seu coração bateu na maior velocidade e por pouco não atravessou o samba enredo de sua vida.
Dona Dulce que foi uma grande e valente guerreira nasceu apaixonada pelo carnaval. Foi princesa da batucada onde seu pai foi um dos fundadores, amava rodar a baiana na avenida, teve época em que a mesma desfilava em mais de cinco escolas de samba numa única noite. Desfilou na Velha Guarda da Unidos da Piedade, sua escola do coração. Terminou seu desfile na passarela da vida bonita e orgulhosa emocionando toda multidão e mostrando que tem muita história para ser contada, no dia vinte e cinco de outubro de dois mil e onze com dez em todos os quesitos e deixando para os amigos, filhos e familiares um legado de alegria, pois a frase que ela nunca deixava de expressar era: “eu quero é viver”. Então...
“VIVA DONA DULCE E VIVA SAMBA”
* Iamara Nascimento é funcionária pública, foliã apaixonada pelo carnaval e pela Unidos da Piedade e Colunista do Site Viva Samba.