Hoje acordei com vontade de escrever, mas escrever o que? Não sei! Ótima idéia! Vou escrever sobre alguém! Que alguém? Sei lá, tem tanta gente importante no samba que eu possa falar que nem sei por onde começar. Meu “Tico e Teco” desceram, vieram até meus ombros e disseram aos meus ouvidos: então fale de alguém que vive no anonimato. Simples assim! Pedi aos dois que devolvessem pro mar tal “oferenda” e procurassem o que fazer e que parassem de me perturbar com essas coisas de samba, e fui trabalhar.
Lembrei de ligar para uma amiga que aniversaria hoje vinte e um de setembro, detalhe: este ano ela entra em mais uma primavera atingindo a idade da “loba”. Ops! Isto da até enredo. Até porque, reza a lenda que a “Coruja” também faz quarenta anos. E daí? Eis a questão, esta pessoa que talvez alguns não a conheçam, além de ter a Unidos de Jucutuquara como sua escola de coração, sempre contribuiu e ainda continua direta ou indiretamente fazendo muito em benefício da “Nação” e do Carnaval Capixaba.
Kátia Cristina Cabral Monteiro Galvão! Nossa senhora dos carnavais, quase perdi o fôlego! Parece até nome de “princesa”; começou seus passos na extinta escola de samba Santa Lúcia, onde seus familiares tinham participação ativa. Seu pai que era “Batuqueiro” ritmava um repique com total elegância e competência, sua tia Dona Vitalina foi uma dos primeiros Destaques do Carnaval Capixaba. Minha mãe, que era da concorrente conhece bem esta história. Ainda em minha lembrança, me vem vagamente àquela senhora toda “trabalhada no lamê” (tecido nobre na ocasião), lantejoulas e miçangas, época em que a pistola de cola quente e os paetês a metro ainda não haviam sido inventados, então tudo era costurado um a um, para o trabalho ficar perfeito. Detalhe: as compras eram feitas no Rio de Janeiro. Aquela senhora levantava aplausos como uma rainha na avenida Princesa Isabel nos anos setenta, a peruca era indispensável (demonstrava poder social), um luxo.
Mais tarde em meados dos anos oitenta Kátia Galvão, ou simplesmente Katinha, se integra à banda musical do Colégio Estadual e estreita amizade com sambistas de diversas escolas, inclusive “eu”. Infelizmente alguns destes amigos já não se encontram entre nós, com certeza estão fazendo carnaval em outra dimensão. Apaixonou-se pela ala “gente coisa é outra fina” quero dizer: “Gente fina é outra coisa” da Novo Império, a melhor Ala do Carnaval Capixaba na época. Aprendeu com este grupo, a prestigiar todas as agremiações carnavalescas, mas só em mil novecentos e oitenta e nove que estreou no Sambão do Povo desfilando na Jucutuquara e Novo Império, onde foi acusada de traidora por alguns bairristas da “Nação” inconformados, o que ainda é bastante natural no mundo do samba, atitude esta que jamais a intimidou, aja visto que, depois desse episódio desfilou em outras escolas também, algumas inexistente hoje. Já pensou se a Santa Lúcia resolve renascer? Amiga, calma heim, olha a idade.
Em mil novecentos e noventa e dois, inscreveu-se ao concurso para a realeza de Momo e foi eleita segunda Princesa do Carnaval Capixaba que para ela foram momentos inesquecíveis e que só concretizaram sua paixão por este segmento que são as escolas de samba, pois nesta época visitou todas as quadras e clubes. Pena que logo em seguida veio o recesso do carnaval. Período que foi o tempo que teve para dar a luz ao seu herdeiro Victor, hoje um belo adolescente que também admira o carnaval e a Jucutuquara. Mas o segredo é que ele desfilou pela primeira vez na Unidos da Piedade he he.
Vamos fechar este quarto e último setor do enredo com chave de ouro. O carnaval retornou em noventa e oito como todos sabemos, mas só depois que a Katinha se une aos amigos pesquisadores e mostra seu dom na elaboração de enredo, ora como autora, ora como assistente nas pesquisas, mas não pensem vocês que foi só isso não: participou de projetos também, e sua colaboração para deixar nossos amigos com fantasias belas na avenida foi significativa, confecções de alas, composições do carro abre alas... Este ano a nossa musa faz tudo do carnaval, confeccionou toda a ala de passistas da Unidos de Jucutuquara, mas o melhor está por vir, para dois mil e doze a princesa do carnaval que virou “Loba”, a convite do diretor de harmonia de sua escola de coração, está compondo o quadro deste quesito que é tão importante dentro de uma agremiação e promete trabalhar com as garras de uma verdadeira “canídea” para que tudo saia dentro do objetivo almejado e com isto poder trazer de volta a alegria que sua escola merece.
Gente! Com tanta história em quarenta anos, acho melhor a Katinha jamais querer ser presidente e sim fundar sua própria escola de samba, desfilar e ainda subir para a arquibancada assistir tudo e bater palmas vocês não acham? “Francamente!” É muita demanda!
Parabéns Katinha pelos quarenta anos e seja bem vinda a alcatéia das lobas do samba capixaba!
E Viva Samba!
* Iamara Nascimento é funcionária pública, foliã apaixonada pelo carnaval e pela Unidos da Piedade e Colunista do Site Viva Samba.