Hoje não quero fazer homenagem a nenhum sambista, mas a um amigo. Até por que a pessoa que vou falar não era um “sambista” como eu cansei de ouvir pelos bastidores. Talvez por que ele tinha chapéu Panamá legítimo, ou nunca precisou do palco das quadras de escolas de sambas para aparecer! Por que se a regra para ser sambista tem que ser de comunidade, “pobre” ou “negro”, ele preenchia todos esses quesitos e nunca negou para ninguém. Mas o que sempre fazia diferença, era a questão da sua voz ultrapassar barreiras além do que se esperavam.
 
Bem. Vou falar de um grande talento e orgulho dos capixabas que com sua voz, “diga-se de passagem”, encantava a muitos, mas muitos mesmos, e alguns que ficavam desencantados por que não conseguiam alcançá-lo. Além de sua voz irreverente ele sabia a hora e a vez de cantar a música certa na hora certa e no momento certo.
 
Desde que me entendo por gente que o Sr. Luizinho Taj Mahal é sucesso. Lembro-me que as pessoas falavam que ele foi cantar num programa de calouros, não sei se era a “Discoteca do Chacrinha” ou “Silvio Santos” , interessantes também era quando eu ouvia minha irmã e amigas dizerem que iam ver a “Banda Taj Mahal”, eu achava aquilo o máximo. Enfim, os anos se passaram e eu pude ver e ouvir o Luizinho e sua banda, e também pude desfilar ao som de sua voz, e, melhor ainda tive o privilégio de conhecê-lo.
 
Nunca vou esquecer no dia em que estávamos todos falando de música, quando citei que era apaixonada pelas composições do Lupicínio Rodrigues e que adorava quando o Luizinho cantava “Nervos de aço” logo ele soltou: “você sabe o que é ter um amor meu senhor...” e eu continuei a música. Ele não se deu por vencido e puxou: ela disse-me assim, tenha pena de mim vá embora...”Eu também completei. Então ele me disse que estava muito feliz por que também era fã e muita gente não sabia quem era Lupicinio Rodrigues e poucos sabiam que ele cantava varias músicas dele, e que eu era nova para admirar tal compositor, então logo eu cantei: "esses moços, pobres moços"... Quando nos cumprimentávamos era sempre com um trecho da música desse grande compositor gaúcho.
 
E agora Luizinho? Quem vai cantar as músicas do Lupicinio pra mim?
 
Luiz Queiroz dos Santos (20/10/1949 – 21/10/2010) nasceu na Ilha do Príncipe, acho que na hora que ele tomou a palmada da parteira para abrir os pulmões o som que saiu de sua voz foi: “mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...” Começou a trabalhar muito cedo no Porto de Vitória para ajudar sua família. Aos doze anos de idade já cantava como músico profissional. Sempre de bem com a vida, exalava alegria a todos em sua volta. Já cantou várias vezes no Rio de Janeiro e São Paulo, mas o seu porto seguro sempre foi em terras capixabas. Como ele mesmo dizia: “aqui é minha casa”.
 
Foi intérprete da Mocidade Unida da Glória nos anos oitenta, mais tarde veio a acompanhar o Edson Papo Furado na Unidos da Piedade até o ano de dois mil e sete. Em seus shows gostava de fechar com sambas enredos para alegrar o pessoal, principalmente os da Mocidade Independente de Padre Miguel e União da Ilha do Governador, sendo que quando ele cantava o samba do Império Serrano sobre a “Pequena Notável” (Carmen Miranda), a galera ia ao delírio.
 
Sempre muito elegante e bem arrumado, mas fazia uma grande diferença por que sua simplicidade era nata. Quando ele começava a cantar parecia uma brincadeira, e ao mesmo tempo tinha um sentimento único para cada música que ele interpretava. Gostava de ser comparado com o Wilson Simonal, que também era fã e foi fruto de sua grande inspiração no início de sua carreira. Era muito legal ouvi-lo cantar: “vesti azul, minha sorte então mudou”. Sei que o Luizinho Taj Mahal teria muito mais histórias e causos para nos contar, mas infelizmente não deu tempo por que ele teve que nos deixar, pois sua missão entre nós já se encerrou.
 
Nosso querido Luizinho passou pela passarela da vida com todos os aplausos de um profissional da arte e cultura capixaba e também de um magnífico ser humano e sambista. Temos a certeza que lá na dispersão eterna ele já chegou com seu contra-baixo cantando: “estrela de luz, que me conduz...”.
 
É só isso que eu tenho para falar do Luizinho...
 

* Iamara Nascimento é funcionária pública, foliã apaixonada pelo carnaval e pela Unidos da Piedade e Colunista do Site Viva Samba.
LUIZINHO TAJ MAHAL
por Iamara
Nascimento
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