"ERA UMA VEZ;
UM LUGARZINHO NO MEIO DO NADA
COM SABOR DE CHOCOLATE
E CHEIRO DE TERRA MOLHADA
ERA UMA VEZ;
A RIQUEZA CONTRA A SIMPLICIDADE
UMA MOSTRANDO PRA OUTRA
QUEM DAVA MAIS FELICIDADE
PRA GENTE SER FELIZ;
TEM QUE CULTIVAR AS NOSSAS AMIZADES
OS AMIGOS DE VERDADE
PRA GENTE SER FELIZ
TEM QUE MERGULHAR NA PRÓPRIA FANTASIA
NA NOSSA LIBERDADE!
UMA HISTÓRIA DE AMOR
DE AVENTURA E DE MAGIA
SÓ TEM A VER;
QUEM JÁ FOI CRIANÇA UM DIA".
- Toquinho -
 

Dia treze de setembro de dois mil e dez! Sigo eu em meus passos em direção a Escola de Arte e Dança FAFI para assistir uma aula, mas não era uma aula comum, era uma aula inaugural de mestre sala e porta bandeira. Enquanto eu caminhava pela calçada veio a minha lembrança à presença de uma garotinha que passava desfilando na avenida e todos exclamavam: “Olha que gracinha, ela é a filha do coordenador de carnaval!” Mas era só olharem com um pouco de sensibilidade para aquela pessoinha, que logo já se percebia no olhar dela o seguinte: “Sou filha dele sim! E também sou Porta Estandarte e daí?”
 

Cheguei até a FAFI, lá encontro várias personalidades do samba capixaba e claro a anfitriã do evento e, percebi um certo nervosismo de sua parte ou talvez ansiedade mesmo. Mas os que mais me chamou atenção foram às crianças que ali estavam em busca do sonho de apresentar no futuro o pavilhão de suas agremiações. Vi nos olhos de cada uma um encantamento quando a autora do projeto começou a se pronunciar sobre as aulas, e a mesma falava com tanta firmeza e ao mesmo tempo tanta emoção que contagiou a todos nós ali presentes.
 

Conversei com a Thamires de oito anos e ela já foi para a aula levando seu mestre-sala que é seu primo Robson, (esperta esta menina), ambos são da comunidade de são Torquato. A Thais dos Santos de Oliveira de dez anos veio da Novo Império, também tinha uma menina da Boa Vista bem entusiasmada. A Yasmin Correia Varejão Fagundes de onze anos estava la junto de sua prima, ela é passista desde os oito na Jucutuquara e disse que o que mais gostava de ver em sua escola era a porta bandeira Andressa dançando, está explicado o porque da Yasmin neste evento vocês não acham?
 

Diante de tantas crianças em busca de um sonho, resolvi contar uma história real que começou há um tempo atrás e que não deve ficar esquecida na memória do nosso carnaval.
 
Era uma vez, uma menina que vivia num ambiente chamado mundo do samba, assim como tantas outras, inclusive eu. Mas esta menina era especial porque o seu destino já estava dizendo que a mesma tinha a missão de defender não só o pavilhão de sua agremiação, mas também de duas co-irmãs.
 

Esta menina sofreu vários preconceitos que eu faço questão de colocá-los a público para que não se repitam mais. Tipo: Ela só tira dez porque é criança, porque o pai é influente, ela não deveria ser porta bandeira porque é branca, porque é loira, ela não é da comunidade... Esta menina que cresceu e virou mulher aprendeu a lidar com a festa profana de uma maneira natural e saudável passando por cima de todos os obstáculos que ali encontrava, então foi tranquilo lidar com tais situações. Como? Desde o primeiro instante que ela impôs para todos que seu nome é Andressa Leal Santos, e hoje ela é conhecida até na consagrada terra do samba carioca como referencia do nosso carnaval. O que nos torna muito orgulhosos.
 

Mas sua história não para por aqui, pois a nossa porta bandeira resolveu voltar a ser criança trazendo a alegria que ela sempre teve ao apresentar seu estandarte para o mundo do samba capixaba através de componentes de várias comunidades, independente de raça, religião e principalmente “agremiação.”
 

Quando eu ouvi e vi pela primeira vez esta amiga dizer em público que estava deixando de ser porta bandeira, eu sabia que era em busca de algo maior em sua vida e para o nosso samba. Eu como tantos outros sambistas que a acompanhamos dar o primeiro “passo” na avenida, claro que sabíamos que um dia ela chegaria ao “compasso”. Como sabemos também que este “compasso” é o primeiro “passo” para quem sabe um dia uma outra porta bandeira ou mestre sala que venham receber homenagens, notas máximas e graduação de referencia nacional, chegue ao “compasso” dizendo:
“Tudo que sei hoje aprendi no Projeto “Compasso”, e estou aqui para ensinar-lhes o que a minha mestre me ensinou: o primeiro passo”
 
Parabéns Andressa Leal Santos pelo projeto e todos que levam com seriedade o saber junto da experiência para tantas crianças que sonham um dia brilhar na passarela do samba defendendo o pavilhão que é o maior símbolo que temos em nossas escolas.
 


* Iamara Nascimento é funcionária pública, foliã apaixonada pelo carnaval e pela Unidos da Piedade e Colunista do Site Viva Samba.
UM PASSO PARA O COMPASSO
por Iamara
Nascimento
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