Finalmente iremos descobrir nesta quarta-feira (22) a grande campeã do Grupo Especial do Carnaval Capixaba e também a do Grupo A. E este ano, os desfiles das escolas de samba foram mesmo surpreendentes. Apesar de toda crise financeira que atingiu diretamente as escolas de samba, quem acompanhou os desfiles deve concordar: tivemos o melhor carnaval dos últimos anos e possivelmente de todos os tempos. Praticamente tudo deu certo: a organização da LIESES (apesar da absurda falha no gerador durante o desfile da Chegou o que Faltava); os desfiles das escolas de samba (com exceção da Rosas de Ouro, que novamente fez uma apresentação vergonhosa, e que se não fosse a garra dos componentes da agremiação, nem mereceria atravessar o palco do carnaval); e, principalmente, a dedicação com que presidentes, diretores, carnavalescos, mestres-salas e porta-bandeiras, ritmistas, mestres de bateria, comissões de frente, comunidade, aderecistas, rainhas, costureiras, e todos que realmente fazem o carnaval, conseguiram construir um espetáculo belíssimo, grandioso, luxuoso e digno. Sabemos das dificuldades, sei da falta de aporte financeiro por parte do Governo do Estado e da Prefeitura de Vitória (liberar a verba após os desfiles é um absurdo), assim como também sei da falta de carácter e compromisso de alguns dirigentes, mas no fim de tudo, o Carnaval Capixaba 2017 foi maravilhoso. Mas como comentarista de carnaval, cargo que tenho o prazer em exercer há 10 anos, tenho que opinar, apontar erros e acertos, pois os trabalhos apresentados no Sambão do Povo não são analisados somente por mim, mas pelo sambista capixaba e pelos julgadores oficiais do Carnaval. Então, se você não tem a capacidade de reconhecer erros, ou não está preparado para ser julgado pelo trabalho desenvolvido, você está na profissão errada.
 
O carnaval 2017 marcou a vitória do samba, do sambista e dos componentes que desfilam sua alegria e dedicação pelo Sambão do Povo.
 
E Viva o Samba!
 

GRUPO A
 
Independente de São Torquato (3° Cabine Julgadora)
Com o tema “Na busca pela Sabedoria, meu Caminho é Independente”, a São Torquato realizou um desfile digno, apesar de não ter conseguido trabalhar o enredo da forma ideal. O samba de enredo, apontado por mim com o melhor do Grupo A, acabou não funcionando, apesar da boa atuação do carro de som. Os componentes não cantavam a obra e a escola desfilou para arquibancadas vazias. Além disso, a escola apresentou problemas de evolução ao longo do seu desfile. A comissão de frente, de concepção singela, fez uma boa apresentação, assim como o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira (linda fantasia). E a bateria comandada por Mestre Genivaldo fez uma boa apresentação, mas confesso que esperava mais ousadia e criatividade. Nos quesitos plásticos, o destaque ficou por conta do imponente carro abre alas da agremiação. Já as fantasias estavam completamente irregulares. Algumas de ótima leitura e acabamento, outras incompletas. Dessa forma, a escola deve ficar de fora das primeiras colocações do Grupo A.
 

Chegou o que Faltava (3° Cabine Julgadora)
Com o enredo “Lendário das águas – Místico, Sagrado e Elemental”, a Chegou o que Faltava realizou o melhor desfile do Grupo A.  Uma apresentação compacta e de boa qualidade plástica. O samba, apesar de estar longe de ser uma unanimidade, funcionou (principalmente o refrão principal); a escola cantou a obra com garra e uniformemente; as fantasias estavam todas completas e criativas; a comissão de frente foi uma das melhores da noite e o conjunto alegórico de ótima concepção e bom acabamento. Quando o cronometro marcava 11 minutos de desfile, um problema no gerador do Sambão do Povo fez com que a sonorização parasse de funcionar e o desfile foi interrompido por aproximadamente 40 minutos. Agora resta saber o quanto a escola foi prejudicada por uma falha que não compete a ela, e sim a organização do evento.
 

Rosas de Ouro (1° Cabine Julgadora)
A Rosas de Ouro perdeu a oportunidade de realizar um grande desfile, já que tinha um dos melhores enredos do Carnaval 2017: “É pirata fica de olho. Rosas de Ouro vai desvendar o tesouro”. Na realidade, o desfile da agremiação foi um grande desastre. A escola desfilou sem comissão de frente, fantasias incompletas e sem nenhum carro alegórico. A bateria, com poucos componentes, fez uma apresentação irregular, e assim como o samba, não funcionaram. O destaque ficou por conta da apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Naymara e Rafael e também pela garra dos poucos componentes que desfilaram sua alegria pelo Sambão do Povo.
 

Chega Mais (1° Cabine Julgadora)
Com o enredo “Chega Mais e veja a majestade do samba! O voo da águia rumo a vitória!”, uma homenagem a Portela, a Chega Mais realizou o seu melhor desfile desde a retomada ao Carnaval Capixaba. A comissão de frente, comandada pelo coreógrafo Vinicius Santana, estampou na fantasia as letras da agremiação do Rio de Janeiro, mas não apresentou toda a coreografia na primeira cabine julgadora, e com isso, deve perder pontos. Durante o desfile, não faltaram malandragem, samba no pé e muito jeitinho carioca para encantar os capixabas na primeira noite de carnaval. A apresentação do primeiro casal Diego e Delma foi impecável, e devem brigar pelas notas 10. Apesar do bom conjunto alegórico (que particularmente gostei demais), o enredo poderia ser mais bem desenvolvido ao longo das alas, que alternavam criatividade e irregularidade (alas incompletas). O samba, assim como a bateria e o carro de som, comandado por Wander Show, também foram destaques, e ajudaram a animar o desfile. Além disso, a Chega Mais apresentou a mais bela ala de baianas do Grupo A. Dessa forma, a Chega Mais pode surpreender a abocanhar uma boa colocação entre as escolas do Grupo de Acesso.
 

Andaraí (1° Cabine Julgadora)
Com o enredo "Com uma paleta de cores vibrantes, Andaraí pinta o seu carnaval”, a quinta escola a desfilar no Sambão do Povo cumpriu o prometido. O carnavalesco Sandro de Oliveira apresentou uma paleta de cores e conquistou o público no primeiro dia de carnaval. A comissão de frente, coreografada pelo renomado George Falcão, realizou sua melhor apresentação no Sambão do Povo, mas novamente ressalto, sempre espero mais. E, particularmente, gostei da ousada junção da comissão de frente com o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, uma atitude que, sinceramente, funcionou. Alias, a apresentação do primeiro casal Marcos Paulo e Priscila foi irretocável, uma das melhores da noite. E quanto aos quesitos plásticos, gostei muito do conjunto alegórico da Andaraí, mas em relação às fantasias, estavam irregulares, algumas de ótima concepção, outras singelas e incompletas (sem cabeça e calçados). A Bateria do Mestre Amorim fez uma apresentação ousada e repleta de qualidades, assim como o interprete oficial Lauro, mas nem eles foram capazes de empolgar o Sambão do Povo com o samba “morno” que, definitivamente, não funcionou. Além disso, a escola apresentou problemas em sua evolução e os componentes cantaram pouco durante o desfile. Para complicar, a escola apresentou graves problemas em sua evolução e ultrapassou o tempo de desfile (55 minutos), em 4 minutos.
 

Tradição Serrana (1° Cabine Julgadora)
Buscando uma vaga no Grupo Especial, a escola de samba da Serra se inspirou em histórias de bruxas para criar o enredo “Sim Salabim, o caldeirão vai ferver”. Entre os destaques do desfile estão o bom conjunto de alegorias (apesar de problemas no acabamento) e a excepcional apresentação da bateria, a mais empolgante da noite. O enredo foi bem trabalhado pela dupla de carnavalescos, Sidney e Angeli e, apesar disso, faltou qualidade plástica ao desfile. A comissão de frente apresentou uma coreografia simples, pouco atrativa e com erros de sincronia. Já o primeiro casal, Eduardo Belo e Sayuri Kame, realizaram uma boa apresentação. O samba, o mais animado do Grupo A, funcionou muito bem, e o carro de som da Tradição Serrana também se destacou. Resumindo, a escola fez um desfile organizado, alegre, e que apesar do pouco luxo, conseguiu transparecer o enredo com qualidade. E para sacramentar os problemas de evolução, a escola estourou o tempo de desfile.
 

Imperatriz do Forte (3º Cabine Julgadora)
A Imperatriz do Forte com seu "Gran Circo Imperatriz" realizou plasticamente o mais criativo e belo desfile do Grupo A. Apesar da ótima apresentação da comissão de frente, a melhor da noite, ela também foi responsável pelo grande desastre que afetou a escola. O quesito só foi deixar a passarela quanto o cronometro marcava o tempo de 42 minutos, com isso, restaram apenas 13 minutos para todos os outros 1000 componentes da agremiação cruzarem a avenida. Um verdadeiro absurdo. Com isso, a escola terminou o desfile em 57 minutos e 56 segundos. O conjunto de fantasias da agremiação eram muito bonitas, mas a ala de baianas decepcionou pela simplicidade. O primeiro casal, Daniel e Milena, realizaram uma apresentação muito superior a do ensaio técnico e fizeram uma boa exibição. A bateria, comandada pelo Mestre Vitor, preferiu uma apresentação mais técnica e menos ousada. Já o samba e o carro de som, brilhantemente conduzido por Ricardinho Oliveira, tiveram uma atuação brilhante, contribuindo para que o samba fosse “disparado” o melhor da noite.
 

Unidos de Barreiros (3º Cabine Julgadora)
A Barreiros encerrou os desfiles do Grupo A com uma apresentação acima da vexatória passagem da escola pelo Grupo Especial em 2016. A comissão de frente realizou uma apresentação com sincronismo, mas que deixou a desejar na concepção. O primeiro casal, Tony e Renatinha, realizaram uma exibição que foi uma junção de sincronismo e ótima fantasia. Entre as fantasias da escola, o grande destaque foi a belíssima ala de baianas, a melhor do Grupo A. Os carros alegóricos apresentavam imponência e ótimo acabamento, apesar da confusa relação da segunda alegoria com o enredo. Apostando em um enredo afro “Uganda, a Pérola da África”, a agremiação não soube desenvolver o tema, falhando na idealização das fantasias. O samba de enredo, um dos mais fracos do Grupo A, não funcionou, e a escola pouco cantou a obra. E a bateria, comandada pelo Mestre Reginaldo, também realizou uma apresentação “morna” e pouco criativa, passando sem realizar bossas na última cabine julgadora. Apesar de se apresentar com um bom número de componentes, e organizada, a Barreiros realizou um desfile irregular. E dessa forma, não deve brigar pelas primeiras colocações do Grupo A.
 

Os Melhores do Grupo A
 
Melhor Desfile: Chegou o que Faltava
 
Brigam pelo Título: Chegou o que Faltava, Andaraí e Imperatriz do Forte
 
Melhor Bateria: Tradição Serrana
 
Melhor Samba: Imperatriz do Forte
 
Melhor Enredo: Imperatriz do Forte
 
Melhor Intérprete: Ricardinho de Oliveira, Marcinho Diola e Wander Show
 
Alegorias e Adereços: Chegou o que Faltava
 
Fantasias: Imperatriz do Forte
 
Comissão de frente: Imperatriz do Forte
 
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Chega Mais
 
Ala de Baianas: Barreiros
 






Gustavo Fernando.
 


 
* O Colunista Gustavo Fernando é Jornalista, Crítico de cinema, Compositor de Samba e Pesquisador de Carnaval.
 
Sugestões, críticas, elogios, etc. Entrar em contato via e-mail: gusfcoutinho@yahoo.com.br
ANÁLISE DOS DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO A
(SEXTA-FEIRA-17/02)
por Gustavo
Fernando
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