O Carnaval de Vitória se iniciou com os desfiles das escolas do Grupo A (acesso) e onde apenas a campeã irá para o Grupo Especial em 2017. Foi uma noite mágica e surpreendente, demonstrando toda a evolução das escolas, que mesmo com a grave crise financeira (em razão do pouco apoio público ao evento) apresentaram um espetáculo exuberante. Vou tentar expressar minha opinião de forma resumida e já comunico que minha análise foi baseada no que vi durante as apresentações no primeiro módulo de julgadores. E faço um importante alerta: é um crime o tempo máximo de 55 minutos, tanto é que várias agremiações extrapolaram o tempo regulamentar. Em respeito às agremiações, o justo seriam 60 minutos de desfile, aproveitem essa dica!
 
Chegou o que Faltava
Enredo: Caboclo Bernardo, herói do povo para o povo
A Chegou o que Faltava realizou um bom desfile, mas aquém das minhas expectativas. E talvez o maior culpado dessa quebra de expectativa seja eu, já que depois do ótimo ensaio técnico da agremiação cheguei a acreditar que a escola poderia disputar o título, mas ainda não foi dessa vez que a escola apresentou um carnaval competitivo. Um dos carros da escola quebrou e além disso, ela estourou o tempo regulamentar. A agremiação se apresentou plasticamente de forma simples, mas dentro do enredo, com alguns problemas em suas fantasias (falta de uniformidade).
 
Eu gosto muito do samba da Chegou o Que Faltava e o considero um dos melhores do Grupo de Acesso. A apresentação do carro de som foi muito boa, com destaque para a grande atuação de Fernando Brito.
 
A escola se apresentou de forma coesa e com as alas cantando o samba. A bateria da escola não repetiu a grande atuação do ensaio técnico, talvez em razão da visível redução do número de componentes. Assim como houve uma “queda de rendimento” na apresentação do primeiro casal Yuri e Emmanuelle, e que vale ressaltar, parecia incomodada com sua indumentária (acho que a saia muito curta, não facilitou o bailado do casal).
 

Imperatriz do Forte
Enredo: África do berço da humanidade ao santuário milenar da sabedoria
Pelo segundo ano consecutivo a Imperatriz do Forte decepciona e realiza um carnaval pouco competitivo. E para minha surpresa, quem veio à frente da escola foi o carnavalesco Alex Santiago e não Flavio Campello, até então, o responsável pela parte artística da agremiação.
 
Plasticamente a escola se apresentou de forma debilitada, repleta de fantasias sem leitura ou incompletas. Assim como as alegorias, que retratavam o enredo com extrema simplicidade. Aliás, um dos graves problemas da Imperatriz foi a má utilização do enredo.
 
Gostei da comissão de frente da Imperatriz. O primeiro casal se apresentou sem grande destaque. E cito como o seu maior atrativo a ótima apresentação da bateria. Já em relação ao samba, a letra conta o enredo com qualidade (tenho restrições quanto a melodia), mas mesmo com uma competente atuação do carro de som, o samba não empolgou.
 

São Torquato
Enredo: Folclore Brasileiro
Surpreendente, essa é a melhor palavra para definir o desfile da São Torquato. Mesmo com diversos problemas administrativos, a agremiação realizou um bom desfile e vai brigar por uma ótima colocação.
 
A comissão de frente, que eu tinha grandes receios, se apresentou de forma competente e até ganhou um carinho especial do público. Apesar da simplicidade de sua concepção, e dos óbvios erros de sincronismo (a comissão era formada por crianças) fiquei satisfeito com a apresentação.
 
Eu gosto do samba da São Torquato, mas a escola cantou pouco. O intérprete Marcinho Diola mais uma vez demonstrou que é fera na avenida e a bateria contagiou o Sambão do Povo com sua competente apresentação. Possivelmente a melhor da noite.
 
Gostei muito da apresentação do primeiro casal Luzimar e Renatinha, assim como da fantasia do casal. Destaco também o segundo casal (apresentação e fantasia). Plasticamente o desfile da São Torquato mesclou originalidade com uniformidade. Achei um “barato” a fantasia da bateria (saci), assim como outras ótimas “sacadas” em seu desfile.
 

Chega Mais
Enredo: Anjo Negro, Negro Anjo (Neguinho da Beija-Flor)
O desfile da Chega Mais foi decepcionante. Uma apresentação desleixada e tecnicamente repleta de equívocos. A começar pela ausência da ala de baianas e principalmente, apesar do reduzido número de componentes, o “estouro” do tempo regulamentar.
 
A “cabeça da escola” começou muito bem, com uma boa exibição da comissão de frente (gosto da concepção) e uma irretocável apresentação casal Selminha Sorriso e Claudinho, nada mais, nada menos, que um dos maiores da história do carnaval e defensores do pavilhão da atual campeã do carnaval do Rio de Janeiro, a Beija-Flor. Mas após isso reinou o caos. Alas fora da ordem, fantasias incompletas, um enredo mal utilizado e o LED do carro abre-alas (um dos trunfos da escola), queimou durante o desfile.
 
A bateria realizou uma boa apresentação e o carro de som demonstrou toda sua competência na condução do samba com um requinte a mais: o retorno de Ricardinho de Oliveira aos desfiles do Carnaval de Vitória ao lado dos interpretes oficiais Tim e Lolo.
 

Andaraí
Enredo: Era uma vez...
Mesmo não vindo brigar pelo título, a agremiação se apresentou de forma competitiva, mas infelizmente cometeu alguns erros: como extrapolar o tempo regulamentar.
 
Plasticamente a escola alternou bons e maus momentos! O desfile apresentou fantasias criativas e de fácil leitura, mas por outro lado, havia alas com fantasias incompletas (faltando cabeça, calçado). Quanto as alegorias, destaque para o abre alas, enquanto os outros carros apresentaram problemas de acabamento. Sem falar na mais encantadora ala de baianas da noite, que representava a boneca Emília do Sitio do Picapau Amarelo.
 
Apesar de uma boa apresentação: carro de som, bateria e samba não repetiram a ótima apresentação do ensaio técnico. A escola cantou pouco e novamente apresentou uma “queda” no seu andamento.
 
Gostei muito da apresentação da comissão de frente idealizada por George Falcão, o grande destaque do desfile. Ótima fantasia e ótima apresentação. Também ressalto a competente apresentação do casal de mestre sala e porta bandeira.
 

Tradição Serrana
Enredo: Congo
A Tradição Serrana realizou um grande desfile e vai brigar por uma ótima colocação (quem sabe o vice-campeonato). A escola estava organizada (apesar de alguns problemas em sua evolução), bem vestida e apresentou alegorias de ótima qualidade, tanto em sua concepção quanto em seu acabamento. A escola de samba mais japonesa do Brasil deu um show. Além de estar com o samba “na ponta da língua”, os componentes da Tradição irradiaram animação.
 
Apesar de achar a coreografia simples, fui surpreendido com uma boa apresentação da comissão de frente. E novamente o primeiro casal Eduardo e Sayuri repetiu a boa atuação que vimos no carnaval do ano passado e foi um dos destaques do desfile.
 
Também destaco a sintonia entre carro de som, samba e bateria, que cruzaram o Sambão do Povo com forte empolgação. E apesar do samba da escola ser “irregular” (apostando na simplicidade de sua letra e uma melodia fácil), não há dúvidas que foi um importante combustível para o sucesso do desfile da Tradição Serrana.
 

Novo Império
Enredo: Sou Bantu, Sou Quibondo, Sou Angola, Sou Espírito Santo. Sou Quilombola!
A Novo Império realizou o mais belo desfile de sua história! E apesar de se apresentar de forma imponente e com uma irretocável plástica, a escola cometeu erros que se evitados, poderia ter como resultado final um desfile perfeito. Mas ainda assim, foi visível sua superioridade em relação as concorrentes da noite. Foi uma apresentação emocionante e grandiosa, colocando a agremiação como incontestável favorita ao título.
 
Contra a agremiação pesa o fato de ter ultrapassado o tempo regulamentar em um minuto, um “buraco” ocasionado pela entrada da segunda alegoria (o barco ficou atravessado na avenida) e além disso, a ousadíssima bateria da agremiação errou na execução de suas bossas em frente a primeira cabine julgadora. Após isso, bateria e carro de som se recuperaram e fizeram uma apresentação empolgante, repleta de paradinhas e que “levantou” o Sambão do Povo.
 
O seu conjunto alegórico foi o melhor da noite (os dois primeiros carros da escola foram deslumbrantes) e facilmente podemos dizer o mesmo das fantasias. A comissão de frente fez uma ótima apresentação, assim como o primeiro casal da escola, que para mim, foi a grande revelação do carnaval 2016.
 

Rosas de Ouro
Enredo: Nos passos da história...a Rosas de Ouro canta e encanta a Insurreição de Queimado
A Rosas de Ouro realizou um desfile desastroso, foi tecnicamente a mais fraca agremiação a desfilar no Grupo A. Os problemas foram tanto de ordem plástica (os mais graves), quanto na apresentação de alguns dos seus principais quesitos: comissão de frente, primeiro casal, samba e bateria. A escola pouco cantou o samba, que considero o mais irregular de todo o carnaval. Uma obra que não apresenta riqueza poética nem em sua letra, nem em sua melodia. Um samba que apenas se limita a recontar o enredo de forma óbvia e limitada.
 
A comissão de frente apresentou uma coreografia extremamente simples e de fraca concepção. Grande parte das alas tinham problemas de uniformidade (calçados, cabeça), e os carros, graves problemas de acabamento.
 
Gostei da ala de baianas da escola (não sei se tinha a quantidade mínima de componentes), e da apresentação do primeiro casal (apesar da fantasia de gosto duvidoso). E a bateria fez o seu melhor, mesmo com um reduzido número de componentes.
 

Os Melhores do Grupo A
 
• Melhor Escola: Novo Império.
 
• Melhor Comissão de Frente: Andaraí e Novo Império.
 
• Melhor Mestre Sala e Porta Bandeira: São Torquato e Chega Mais.
 
• Melhor Samba: Chegou o que Faltava e Novo Império.
 
• Melhor Enredo: São Torquato e Andaraí.
 
• Melhor Bateria: São Torquato e Novo Império.
 
• Melhor Alegoria: Novo Império.
 
• Melhor fantasia: Novo Império.
 
• Melhor ala de baianas: Andaraí.
 



Gustavo Fernando.
 


 
* O Colunista Gustavo Fernando é Jornalista, Crítico de cinema, Compositor de Samba e Pesquisador de Carnaval.
 
Sugestões, críticas, elogios, etc. Entrar em contato via e-mail: gusfcoutinho@yahoo.com.br
ANÁLISE DOS DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO A
(SEXTA-FEIRA-29/01)
por Gustavo
Fernando
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