Sinal verde para o Carnaval Capixaba 2016. Essa é a sensação dos sambistas com o início dos ensaios técnicos que começaram nesta segunda dia 11/01 no Sambão do Povo. Lembro que os ensaios são primordiais para as escolas aprimorarem seus principais quesitos, assim como, detectar possíveis correções.
Novo império – A Novo Império deu um importante recado as agremiações que compõem o Grupo A do carnaval de Vitória. Se alguma escola quiser ser a campeã da sexta-feira, terá que “bater de frente” com a agremiação, que ensaiou de forma arrasadora no Sambão do Povo. Organizada e empolgante.
A escola levou uma verdadeira multidão ao ensaio técnico. Seja dentro da avenida (exibindo um grande número de componentes), ou de espectadores, que aplaudiram e se empolgaram com sua arrepiante apresentação.
A comissão de frente comandada pelo experiente Andrezinho Castro, apresentou uma coreografia de ótimo sincronismo e elaboração. E onde parte de sua concepção só será desvendada no desfile oficial. Um dos destaques do ensaio foi o seu primeiro casal Sandro Souza e Amanda Ribeiro, que sinceramente, me surpreenderam. Foi uma apresentação de grande sincronismo, garra e técnica. A harmonia do casal era nítida, assim como, a boa execução do seu bailado.
A entrada no recuo foi “quase perfeita”. Claro que a escola não desfilou com todos os seus componentes, sendo assim, não posso afirmar que essa é a forma que a escola vai se apresentar no desfile oficial. Mas da forma que ocorreu no ensaio, é um grande erro que acomete algumas escolas de samba. Após a bateria, vinha a ala de passistas, ala de crianças e posteriormente, uma ala coreografada. Nunca coloque crianças e ala coreografada próximas a ala de passistas, pois ela é a responsável por “compor” a evolução da escola e tampar o “buraco” após a entrada da bateria no recuo. Na hora que a ala de passistas ocupar o espaço da bateria, para evitar problemas em sua evolução, imediatamente as alas de trás (no caso do ensaio, crianças e ala coreografada), também tem que correr compor aquele espaço. É aí que as coisas se complicam. Sendo assim, não recomendo deixar próximo a bateria as alas das crianças e também a ala coreografada.
O carro de som da agremiação se apresentou de forma imponente, realizando a melhor apresentação dos ensaios técnicos. Já em relação ao samba, deixo para vocês julgarem. Mas posso afirmar que foi um dos destaques do ensaio.
O que falar da Orquestra Capixaba de Percussão? Não há dúvidas que foi uma apresentação grandiosa e monumental. E que não só levantou o Sambão do Povo, como também, irá levantar no desfile principal. E ficou comprovado que é a mais ousada bateria do nosso carnaval. Mas vou expor minha opinião. Honestamente me preocupou o excesso de convenções, coreografias, bossas e “paradinhas” (inclusive uma “paradona” já no recuo). Minha sensação era a de que a bateria não estava executando sua principal função: a sustentação de sua cadência em consonância com o samba de enredo. Sua apresentação foi perfeita: afinada, criativa e versátil. Mas fiquei com essa “pulga atrás da orelha”. Será que os “excessos” da bateria podem fazer com que a escola perca preciosos pontos no desfile oficial?
Agora resta ver o trabalho desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Caribé no desfile oficial. “Chão” a escola tem. Falta ver sua questão plástica: fantasias e alegorias. Aliás, o “calcanhar de Aquiles” da Novo Império.
Tradição Serrana – Apesar do pequeno número de componentes em seu ensaio técnico (claro que a distância dificulta), a agremiação realizou uma apresentação digna. E talvez o maior destaque da escola seja seu primeiro casal Eduardo Belo e Sayuri Kame, que ano passado receberam excelentes notas dos julgadores, mas que infelizmente não estiveram presentes no ensaio (o casal vem diretamente de Tóquio para desfilar pela escola). Novamente o carnavalesco da agremiação é Wilson Vila Flor e a escola vai para o desfile oficial, contar a história do congo com 1.000 componentes, 3 alegorias e um tripé.
A comissão de frente apresentou a coreografia oficial, sem os adereços que compõem sua apresentação para o dia do desfile. Sua exibição foi de pouco impacto e de concepção simples. O sincronismo estava presente em grande parte da apresentação, mas faltou criatividade.
O grande destaque do ensaio foi a sintonia entre carro de som, samba e bateria, que cruzaram o Sambão do Povo com forte empolgação e sem erros. Um dos deslizes do ensaio foi um “pequeno buraco” na entrada do recuo.
O samba da Tradição é leve e animado. Com destaque para seus dois refrões. Como não tive acesso ao enredo, tenho uma dúvida em relação a obra: o termo “Quebra gabiroba”. A segunda parte da obra tem uma queda de qualidade em sua letra, ao apostar em termos no “extravasar gerar”, que foge ao contexto do samba. Mas ainda assim, é uma obra totalmente funcional.
Imperatriz do Forte – Vou tentar ser o menos injusto possível com o bom ensaio da Imperatriz. Lembro que a agremiação tem um time com grandes nomes: Wander Show, o gabaritado carnavalesco Flávio Campello, e além disso, a tradição de realizar carnavais assertivos e visualmente interessantes.
Após um fraco desempenho no ano passado, eu tinha grandes esperanças em relação a Imperatriz 2016, muito em razão das grandes jogadas de marketing realizadas pelo então presidente Wander. Após alguns problemas (e acertos) internos, a aproximadamente 15 dias do carnaval, a situação é preocupante. Ainda há dúvidas quanto ao primeiro casal da escola, como também, quanto às alegorias da agremiação (ainda estão no ferro). A escola corre contra o tempo e deve contar com o apoio da comunidade e dos competentes nomes que sempre foram responsáveis por fazer da Imperatriz uma escola competitiva, entre eles, o guerreiro Robinho. A escola pretende desfilar com 3 carros alegóricos e aproximadamente 1.300 componentes. E novamente espero ver a agremiação disputando o título e empolgando o Sambão do Povo.
Voltando ao ensaio técnico. Sua comissão de frente apresentou uma coreografia que resume a essência do enredo. Sem grandes erros de sincronismo e exibição correta. O “então” primeiro casal da agremiação, Denis e Fabrícia se apresentaram de forma preocupante. Falta repertório ao casal. Talvez pelo impacto de estarem recebendo o posto de forma tão recente. Já que até então, eram apenas o segundo casal, e assim, sem grandes cobranças sobre eles.
O carro de som comando por Wander Show realizou uma apresentação competente, sem erros, mas aja competência para levantar um samba tão “frio” quanto é o samba da Imperatriz. Falta emoção na obra. Reconheço que a letra é primorosa. E digo mais, é bem provável que o samba consiga as notas máximas dos julgadores, já que é uma obra técnica. Mas sinceramente, não me empolga em momento algum. E aliado ao samba e ao carro de som, temos a bateria da agremiação, dessa vez comandada pelo jovem Mestre Vitor Rocha. Uma dica: olhe para sua bateria durante a passagem dela pela avenida. Isso demonstra domínio, envolvimento e principalmente, transmite que você é o responsável pelos ritmistas.
Entendo que sua postura de “raramente” olhar para a bateria se resume em sua confiança nos componentes e também, a ideia que já estão afinados com suas ideias. Gostei das bossas, gostei da afinação, gostei do andamento. Mas não foi uma apresentação que me emocionou. Culpa do “dolente” samba? Achei o ensaio frio.
A Imperatriz do Forte realizou um ensaio correto, organizado, sem grandes equívocos e com um bom número de componentes. E se a escola se resolver internamente e conseguir apresentar um qualificado conjunto plástico (alegorias e fantasias), irá realizar um desfile muito competitivo. Algo que todos esperam da agremiação.
Chegou o que Faltava – Surpreendente! Essa é a melhor palavra para definir o grande ensaio técnico realizado pela Chegou o que Faltava. Melhor até mesmo do que alguns desfiles na história da agremiação. Organizada, envolvente e por vezes arrepiante, graças a uma exuberante atuação da bateria.
Pelo visto, o trio de jovens carnavalescos está trabalhando sério: Jorge Mayko, Vanderson Cesar e Sidney Alan. Foram tantos os destaques que fica até difícil enumerar.
A apresentação do primeiro casal foi primoroso, Yuri e Emmanuelle simplesmente são fantásticos. Mesmo com o forte vento tentando “jogar contra” (a bandeira da porta-bandeira enrolou algumas vezes). A comissão de frente se apresentou de forma competente, característica do grupo, e deve apresentar surpresas no desfile oficial.
Apesar de não ser quesito, fiquei encantado com a imponência de sua rainha de bateria Bethynna Casagrander, são quase três metros de muito samba no pé e um carisma...
O carro de som comandado por Fernando Brito realizou uma grande apresentação e deu um andamento perfeito ao bom samba da agremiação. Uma obra dolente, de excelente letra e que exala qualidades melódicas. É o típico samba gostoso de se ouvir (repetidamente). E o trecho “Meu samba vem prestar a continência”...que sacada!
A bateria do Mestre Fuzil fez uma apresentação descontraída, leve e empolgante. A primeira bateria que me fez arrepiar nos ensaios técnicos. Além disso, a junção de sua exibição, aliado ao samba e ao ótimo carro de som... sintonia perfeita.
Parabéns a escola pelo ótimo ensaio técnico, o melhor até aqui.
São Torquato – O ensaio técnico da Independentes foi repleto de altos e baixos. O primeiro grande problema foi em relação ao enorme atraso de sua apresentação que prevista para às 20h30min, só começou por volta de 21h20min. Mas a maior complicação não foi essa.
Quando eu vi que a comissão de frente seria composta por crianças, imediatamente relatei minha preocupação. Primeiro que cobrar “sincronismo” de crianças é extremamente difícil. Segundo que estamos falando de uma disputa profissional e de alto nível, e além disso, de um dos quesitos mais importantes de um desfile, e que acima de tudo, é o primeiro a se apresentar na avenida. Diante disso, ainda dois problemas foram perceptíveis: a inexperiência da coreografa em relação ao Sambão do Povo e o total caos que foi o ensaio da comissão de frente, que literalmente, não conseguiu executar uma só “passagem” de sua coreografia por completo. Reitero... é uma situação de enorme preocupação para a agremiação, assim como para nós, amantes do carnaval capixaba. Ou a comissão de frente da São Torquato passa a ensaiar diariamente no Sambão do Povo até o desfile oficial ou o resultado poderá ser desastroso.
O bom samba da agremiação é repleto de nuances. Une trechos de belíssima melodia (“Bela voz quis despertar/ Desejos para conquistar meu frágil coração”) com outros de letra modesta (explícitas na segunda parte da obra). O enredo é bem retrato (de forma até inocente) e o resultado é um samba leve, fácil de cantar e que possui um refrão “chiclete” “Cachimbo na boca, numa perna só/ Pulando e girando, eu vi o Saci/ Tem festa na mata, é muita alegria/ Cantam os seres de magia”. Aliás, o único trecho amplamente cantado por seus componentes. O carro de som realizou uma boa apresentação e méritos para Marcinho Diola, que realmente arrebenta na avenida.
O primeiro casal da escola Luzimar e Renatinha, realizaram uma competente exibição e apesar de alguns erros de sincronismo, vale ressaltar a elegância de sua apresentação.
A escola levou um interessante número de componentes e se apresentou de forma organizada na avenida. Uma das grandes curiosidades em relação ao ensaio técnico da escola era referente a sua bateria, agora comandada pelo Mestre Picolé. Apesar de seus diretores estarem visivelmente nervosos, muito em razão da tentativa de manutenção da qualidade dos trabalhos anteriores do Mestre, gostei do resultado final. Uma bateria consistente, que apresenta várias bossas, e que particularmente, acho espetacular a execução de uma delas no refrão do meio. Após uma entrada sem erros no recuo, na hora de seu retorno a avenida, a bateria realizou uma considerável “paradinha” que facilmente poderia ser chamada de “paradona”, com um ótimo retorno ao andamento normal do samba e a manutenção de sua sustentação.
Chega Mais – Em relação ao ensaio técnico, vou começar pelo samba. Isso é, pelas significativas mudanças que o samba sofreu em relação a versão original, que para quem não sabe, foi composta pelo próprio Neguinho da Beija-Flor (o rei da humildade). O refrão principal melhorou (com o acréscimo da linha “Grito de Guerra de um vencedor”), e também na alteração da palavra “sucessor” por “se inspirou”, na última linha da primeira parte. E nessa primeira parte, destaco a melodia do trecho “Moleque pobre que vendeu limão na feira/ Cresceu, venceu nesse malvado mundo cão”, apesar de não gostar da letra dessa última frase.
No refrão do meio, gosto da repetição (algo que não existia anteriormente), mas o trecho “lelêlê ôôô” é de doer. Se repetissem como no original a frase “Beija-Flor sua escola/ sua vida, o seu amor” ficaria bem melhor. Em relação a segunda parte do samba, é inegável o aperfeiçoamento da obra em relação a versão original, entretanto, acho totalmente dispensável (apesar de sua importância dentro do enredo) o trecho “Domingo eu vou ao Maracanã/ Torcer para o meu time que sou fã”. Nesse momento, acontece uma quebra melódica que não contribui para o desenvolvimento da obra, que só recupera o fôlego, aliado a uma empolgante participação da bateria no trecho “De azul e branco eu vou festejar/ Lá vem Chega Mais pra te conquistar/ Nos braços do povo com muita emoção/ o sonho de ser campeão”. E apesar do samba ser irregular, o samba foi muito bem apresentado pelo carro de som da agremiação, conduzido pelos experientes Tim e Lolo, que estreiam na escola. E onde ficou perceptível o “casamento” dos interpretes com o andamento da bateria.
Sinceramente me impressionou o “time de peso” que a Chega Mais agrupou para o carnaval 2016. O carnavalesco é o gabaritado Orlando Jr.; o seu primeiro casal Selminha Sorriso e Claudinho, simplesmente um dos melhores casais da história do carnaval (diretamente da Beija-Flor); comissão de frente a cargo de Giovana Gonzaga e mestres de bateria Alcino Junior e Jorginho. Realmente uma equipe de grandes profissionais, e pela forma organizada de sua apresentação na noite de ontem, sinceramente espero um grande desfile. Nada menos do que isso.
A comissão de frente apresentou parte da coreografia original, mas guardou grandes surpresas para o desfile oficial. Mas deixou nítida a qualidade da equipe, o sincronismo e o bom trabalho apresentado pela coreografa Giovana Gonzaga. Sem dúvida alguma, o seu melhor trabalho no Sambão do Povo, e ainda foi apenas um aperitivo.
Outro importante destaque foi sua bateria, comandada pelos mestres Alcino e Jorginho. Os ritmistas estavam muito descontraídos, entre eles vários mestres de outras agremiações, e literalmente, todos “brincaram” na avenida. Sempre mantendo um bom andamento e sustentando o samba com qualidade, mas francamente, faltou um pouco de ousadia em sua apresentação.
A Chega Mais realizou uma boa apresentação, com um considerável número de componentes e que unidos a seu renomado time, devem entrar na briga pelo título do Grupo A.
Rosas de Ouro – Não compareceu ao Ensaio Técnico
Andaraí – Se julgarmos a Andaraí por seu ensaio técnico, posso afirmar que a agremiação vai apresentar um competitivo carnaval esse ano. Mas deixo claro que a escola tem que se atentar para sua plástica (fantasias e alegorias), que estão sob a batuta do carnavalesco Sandro de Oliveira.
O grande destaque do ensaio técnico foi a competente apresentação do carro de som comandado por Lauro, assim como o bom desempenho do samba, um dos melhores do ano. E onde destaco o brilhante trecho do refrão do meio “Coragem...vontade/ pra ser um Peter Pan”. Senti que o samba perdeu um pouco do seu brilho com a diminuição do seu andamento em relação a gravação oficial. Claro que fica mais confortável, tanto para o carro de som quanto para a bateria, mas posso afirmar que a obra perdeu um pouco de sua “empolgação”.
A comissão de frente que é idealizada por George Falcão, apresentou grande parte de sua coreografia original (com alguns erros de sincronismo), e que apesar de ser mais elaborada do que a do ano anterior, eu continuo esperando mais ousadia do coreógrafo.
O primeiro casal da agremiação, que vem do Rio de Janeiro, não estava presente na noite de ontem, e quem conduziu o pavilhão da escola foi o segundo casal Marcos Paulo e Pricylla.
A bateria da agremiação, um dos destaques do ensaio técnico, começou sua apresentação com algumas falhas (principalmente no retorno dos “brakes”, e muito em relação a suas caixas), mas melhorou consideravelmente após a “primeira cabine de julgadores”, ganhando confiança e realizando uma entrada perfeita no recuo da bateria. Que por sinal, é realizada em uma arriscada manobra já vista em nosso carnaval. Durante ela, bateria e ala de passistas de fundem para evitar “buracos”. E o resultado foi perfeito.
Gustavo Fernando.
* O Colunista Gustavo Fernando é Jornalista, Crítico de cinema, Compositor de Samba e Pesquisador de Carnaval.
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