Que noite... noite de puro samba, desfiles surpreendentes, erros, decepções, alegrias, superações e muita, muita chuva. Os desfiles do Grupo Especial B do carnaval capixaba 2015 foram um verdadeiro espetáculo por parte das agremiações e de arquibancadas praticamente vazias (apesar dos camarotes estarem lotados e “bombando”). Será que a chuva e somente a chuva atrapalhou tanto assim? Tenho minhas dúvidas...
Este ano vou tentar ser o mais breve possível em minhas análises e comentar somente os principais pontos de interesse dos meus leitores e também dos analisados (os quesitos)! Comprometendo-me em dizer a verdade, nada mais que a verdade e somente a verdade (mesmo que essas sejam as “minhas” verdades....), vamos lá, rumo as análises!!!
IMPERATRIZ DO FORTE
A Imperatriz do Forte apresentou um desfile que “poderia ter sido mas não foi”. Acredito que assim como eu, todos estavam ansiosos para ver o que a escola iria “aprontar” em 2015, depois do belíssimo e talvez injustiçado carnaval do ano passado. E mesmo sendo uma das grandes favoritas da noite, algumas coisas deram errado no desfile da Imperatriz e dificilmente a agremiação vai ser a campeã desse carnaval.
Todos já ouviram falar que a bateria é o coração da escola de samba não é mesmo? Mas infelizmente a ótima bateria da agremiação ontem não pode “pulsar” como gostaria, tudo em razão de graves problemas na evolução/harmonia da escola. Tão graves que o desfile da Imperatriz foi “realmente” começar com cerca de 19 minutos após o sinal verde, e somente com 49 minutos a sua comissão de frente chegou a quarta cabine de jurados, sendo assim, faltando apenas 20 minutos para o fim do seu desfile, ainda restava passar pela passarela do samba todo o restante da escola: alegorias, bateria, mestre sala e porta bandeira, alas coreografadas, baianas, etc.
O início do desfile da Imperatriz foi verdadeiramente avassalador. O samba (o melhor da noite) e a bateria foram perfeitos e também funcionaram muito bem, e não posso deixar de louvar méritos ao excepcional trabalho do carro de som da agremiação que é comandado por Wander Show. Já a bateria de mestre Renatinho não teve tempo hábil de demonstrar toda sua habilidade/criatividade frente aos julgadores e pode ser prejudicada com a perda de preciosos décimos.
O desfile da Imperatriz até que possuía algumas boas alternativas plásticas e carros de boa concepção, mas não posso deixar de relatar nítidos problemas em seus acabamentos, além disso, a escola acabou se afundando em uma desorganização sem precedentes e erros graves de evolução: buracos e mais buracos, alas desorganizadas, e um desfile que começou excessivamente lento e terminou em uma “correria desenfreada”, e nem mesmo o primeiro casal de mestre sala e porta bandeira da agremiação, Marcinho e Shayanne, conseguiu realizar uma apresentação do tamanho do seu talento, apesar da fantasia do casal estar de extremo bom gosto.
Já a comissão da Imperatriz apesar de estar muito bem vestida, apresentou uma coreografia sem impacto, sem criatividade e que pouco “representou” o ótimo enredo. E não conseguiu se destacar em uma noite onde as comissões de frente foram de grande destaque.
A Imperatriz do Forte errou e deve pagar caro por seus erros, pois a sua maior punição será permanecer no Grupo Especial B no ano que vem, e digo com toda a certeza: se a escola tivesse apresentado o desfile que foi idealizado para esse ano, o Grupo Especial B iria ficar pequeno para os grandes talentos e a força dos componentes dessa querida agremiação.
NOTA 10: Para o samba da agremiação e a ótima atuação do carro de som. E não posso deixar de elogiar a interação entre bateria e carro de som, que não deixaram em momento algum o samba perder seu andamento ideal.
SÃO TORQUATO
A segunda agremiação a entrar na avenida foi a São Torquato, que desfilou embaixo de um “verdadeiro dilúvio”, mas nem isso atrapalhou a contagiante atuação da bateria de mestre Renato e a ótima condução do samba da agremiação por seu carro de som, que incontestavelmente foram os mais empolgantes da noite e contribuíram para que o público mesmo embaixo de muita chuva fosse ao delírio com suas ousadas apresentações.
A comissão de frente da São Torquato realizou uma apresentação espetacular e merece todos os méritos. Ótima concepção, ótima execução, perfeito sincronismo, enfim, uma apresentação nota 10.
Apesar dos carros alegóricos da agremiação serem de pequeno porte, ainda assim eram de fácil leitura e bom acabamento. O mesmo não posso dizer das fantasias que “apelavam” para a simplicidade e várias alas desfilaram ou incompletas ou mesmo apresentando graves problemas de acabamento (muitas em razão da forte chuva).
O primeiro casal da agremiação, Kira e Renatinha, realizaram apresentações dignas (apesar de alguns erros de sincronia), entretanto, a fantasia da porta bandeira apresentou problemas (a sua “cabeça” acabou caindo) e o casal deve perder pontos.
O desfile da São Torquato foi ao mesmo tempo técnico e notoriamente empolgante. De verdade, gostei muito, foi um des-fi-la-ço. E mesmo que plasticamente não tenha sido o melhor da noite, acredito que as ótimas atuações de vários de seus quesitos (bateria, samba, harmonia, evolução), possam contribuir para uma ótima colocação da escola.
NOTA 10: Para a atuação da bateria, do samba e do carro de som da agremiação, que juntos, tornaram o desfile da São Torquato o mais empolgante da noite.
PEGA NO SAMBA
É campeã! É campeã! Sim amigos, o grande e incontestável desfile da noite foi a da Pega no Samba e de seu “mágico” carnavalesco Paulo Balbino. E digo sem medo, dificilmente a agremiação da Consolação não será coroada como a grande campeã do Grupo Especial B.
Trabalhando muito bem o enredo “Adivinha?”, a agremiação demonstrou toda a força de seus principais quesitos em um desfile muito técnico e plasticamente muito superior ao restante das agremiações da noite de ontem. Sem falar na maravilhosa apresentação de sua comissão de frente, que realmente hipnotizava seus espectadores com graça, leveza, e um efeito da “bola de cristal” que não tenho palavras para narrar. Quem viu, viu. Quem não viu, perdeu!
O primeiro casal da agremiação, Gedilson e Layli, se apresentaram com uma fantasia luxuosa, mas a sua apresentação tem muito ainda que evoluir para realmente ser merecedora de boas notas. São nítidos durante a apresentação do casal os seus problemas de sincronia e confiança, principalmente da porta bandeira.
Gostei muito da fantasia da bateria (que era metade laranja e metade preta). E a escola apresentou um desfile de extremo bom gosto, plasticamente impecável, boas concepções, alegorias de bom acabamento, de fácil leitura, resumindo, um grande desfile com cara de Grupo Especial A, mesmo que em menores proporções.
O samba e a bateria da agremiação se apresentaram de forma funcional (sem erros), mas confesso que me decepcionei com a forma “burocrática” com que a ótima bateria de mestre Jorginho resolveu se apresentar. Já o bom carro de som da agremiação conseguiu conduzir com maestria o seu samba, mas nem mesmo a presença de Bruno Ribas foi capaz de fazer com que a obra empolgasse o público e seus componentes, se revelando um desfile nitidamente “morno” no subjetivo aspecto da animação.
NOTA 10: Para o carnavalesco Paulo Balbino e eu excelente trabalho artístico frente à Pega no Samba. E posso dizer mais? Esse talvez seja o seu “melhor trabalho” desde sempre.
BARREIROS
Homenageando o município de Cariacica, a Barreiros realizou um bom desfile e que a deve manter no Grupo Especial B.
A sua comissão de frente era representada por índios, e que apesar da boa indumentária de seus componentes e uma coreografia “extremamente” funcional, achei a sua concepção/execução muito semelhante a algumas outras que já desfilaram pelo Sambão do Povo e também no carnaval carioca, resumindo, deve colher boas notas, mas não me causou nenhum impacto.
A escola estava organizada e fez um desfile técnico e sem erros. Além disso, se apresentou com boas fantasias (apesar de algumas alas apresentarem problemas), e carros alegóricos que apesar da boa concepção, apresentavam graves problemas de acabamento. Principalmente o abre-alas, que merecia uma atenção toda especial da equipe técnica da agremiação.
O seu primeiro casal se apresentou de forma coerente e possuía uma boa fantasia, mas falta a dupla um pouco mais de “carisma” e “vibração”, na realidade, o casal deve criar uma identidade própria, algo que não percebi em suas apresentações.
O samba se apresentou de forma “funcional”, assim como foi a sempre ousada apresentação da bateria de mestre Reginaldo, que conseguiu com suas bossas empolgar grande parte do público.
NOTA 10: Para o ótimo trabalho da harmonia da escola, que fez com que o desfile da agremiação fosse impecavelmente técnico.
TRADIÇÃO SERRANA
Levando para avenida o enredo “Entra no ar e na avenida, a rádio Tradição, em sintonia com os radialistas e o povão”, a Tradição Serrana realizou um desfile apto para o Grupo Especial B, mas ainda assim, plasticamente inferior ao restante das agremiações, já que a escola possuía várias alas com fantasias incompletas e de concepção simples.
A escola se apresentou com alegria, componentes animados, organizada, mas também cantou pouco seu samba e só não se apresentou de maneira mais deficiente, pois carro de som e principalmente bateria realizaram boas apresentações. Aliás, vou deixar bem claro minha opinião sobre a bateria da Tradição Serrana, mesmo contanto com um número reduzido de componentes e ciente das dificuldades encontradas para montar sua estrutura, gostei muito de sua apresentação !
Como já havia dito durante os ensaios técnicos: a comissão de frente da Tradição Serrana apostou uma coreografia “ingênua” e que em quase nada se nota sua ligação com o enredo, sendo a mais fraca da noite. E já o primeiro casal de mestre sala e porta bandeira da agremiação fizeram o seu papel e realizaram boas apresentações, mas sem impacto.
A Tradição Serrana realizou um desfile correto, sem erros em sua execução, “bom, bonito e barato”, e fechou a noite com dignidade e sonhando com a possibilidade de se manter no Grupo Especial B no ano que vem.
Gustavo Fernando.
* O Colunista Gustavo Fernando é estudante de Comunicação Social, sambista, comentarista de carnaval da Rádio ES AM, compositor e pesquisador de Carnaval.
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