ANTES DOS SAMBAS, A LIESES E A PRODUÇÃO DO CD
Primeiramente, quero demonstrar toda minha satisfação com a LIESES - Liga Espírito-Santense das Escolas de Samba, na figura de seu competente presidente Rogerio Sarmento, quanto a duas importantes questões envolvendo o carnaval capixaba. Primeiro a sempre bem vinda e prematura apresentação do CD com os hinos que abrilhantarão o carnaval capixaba em 2013, novamente se dando antes do natal, uma cobrança antiga e que parece ser um fato consumado para os próximos anos. Ponto positivo para a Liga e para os organizadores do carnaval capixaba.
Outro fato importante, é que apesar de alguns pontos e consentimentos que não concordo, é louvável a conquista do governo do estado e principalmente da LIESES em conseguir colocar os desfiles de sábado de nosso carnaval sendo transmitidos para todo o Brasil. Novamente, parabéns a LIGA pela conquista, e que os responsáveis por administrar nosso carnaval (políticos e Liga), deem condições para as escolas também fazerem a parte delas, desfiles com grande qualidade e melhores do que no ano passado.
Quanto à qualidade da gravação, desta vez a cargo do produtor musical e também intérprete do Salgueiro, Leonardo Bessa, que produziu o disco no Rio de Janeiro (Mixagem e arranjos) após vários anos de sua produção em terras capixabas, não vi grande diferença em sua qualidade com relação aos anos anteriores. Apesar de ter qualidade – não há demérito no trabalho apresentado –, apenas acho que quem criou expectativas demais com uma produção na terra do carnaval deve ter se decepcionado. O CD continua pouco empolgante, não conseguindo valorizar por completo algumas das belas obras que compõem o CD e principalmente, alguns arranjos ou opções escolhidas não me agradaram (como o uso abusivo do coral que em algumas faixas, “engolem” os intérpretes). No todo, é um trabalho convencional, por vezes frio, e que a considero nem melhor, nem pior do que os últimos trabalhos apresentados e realizados no Espirito Santo.
Quando ao encarte do CD, mais um grave erro dos responsáveis pela sua produção. Ano passado eu mesmo sofri (calado) com erro semelhante. Acreditem vocês que os quatro sambas que assinei com meus parceiros Leley do Cavaco e Renilson Rodrigues, todos saíram com a impressão do meu nome errado. Não reclamei (também pouco adiantaria), mas é algo que incomoda o profissional do samba. Imaginem vocês, você trabalha em prol do carnaval, tenta contribuir de todas as forças com o crescimento dessa grande vitrine cultural e no final, na hora da valorização, na hora do crédito, seu nome está errado. Fato que aconteceu novamente esse ano com meu nome no samba da Piedade, e mais grave ainda, trocaram os créditos dos nomes dos carnavalescos da Piedade (Paulo Balbino) e São Torquato (João Vitor). Será que estamos fazendo tempestade em copo d’água? Acho que não. Concordo que é algo que pouco modifica os andamentos do carnaval ou desvaloriza esses profissionais, mas se você fez por merecer estar no encarte de algo tão importante para quem faz o carnaval capixaba, o mínimo que queremos e exigimos é que nosso nome esteja com sua grafia correta, simples assim. A tempo, a LIESES divulgou uma errata nos meios de comunicação se desculpando pelo erro, mas que infelizmente não o apagam, mas serve para que no próximo ano, erros como estes não ocorram mais.
OS MELHORES SAMBAS DE 2013
Como eu gostaria de voltar a comentar os sambas capixabas, juro, adorava fazer. Os comentários que eu fazia uma vez por ano tinham enorme repercussão e após alguns anos o realizando, consegui ganhar respeito e principalmente a credibilidade perante os compositores. Claro que é complicado ter sua obra analisada, ainda mais quando a analise é contra o que imaginamos do nosso samba, mas acho que assim como eu, todos gostam de ter uma analise fria sobre seu samba, e de alguém que entenda de verdade. Concordar com alguém que consegue apontar os principais defeitos e qualidade em sua obra é algo louvável, ainda mais se for uma critica imparcial, verdadeira, com embasamento palpável e perceptível, algo que sempre fiz e tentava manter como base, por exemplo, antes de analisar um samba o ouvia inúmeras vezes, sempre lendo o enredo e tentando compreender sua letra, resumindo, sempre criticava de maneira profissional e sincera.
Como muitos me ligam e me cobram para voltar a dar minha opinião a respeito dos sambas capixabas – algo que não faço desde 2010 –, me senti no direito de pelo menos esboçar uma opinião superficial. Calma, não vou fazer toda aquela análise que fazia, pois como sou coautor de três sambas em 2013 – Piedade, São Torquato e Imperatriz do Forte, e que as considero particularmente, grandes obras –, seria até mesmo pouco profissional fazer comentários sobre o meu, ou dos meus amigos compositores. Não que eu deixaria algo me influenciar ou que seria imparcial, longe disso, mas sabe como é, as pessoas iam acabar me julgando ou se achando julgadas de maneira precipitada, por isso resolvi apenas citar os sambas – excluindo os meus –, que mais gosto de ouvir dessa magnifica safra de 2013.
Eu já tinha gostado muito, muito da safra de 2011 (a considerava a melhor da história de nosso carnaval), mas acho que esse ano os compositores se superaram. Bem, para começar e apenas recordar meu amigo leitor, vou quase que excluir dessa mini-analise os meus sambas que tive o prazer de compor ao lado dos amigos Leley do Cavaco e Renilson Rodrigues. São obras muito elogiadas e que as admiro demais, e só vou citar os trechos que considero em minha particularidade, os grandes momentos dos meus sambas, são eles:
Piedade - (adoro o primeiro refrão, o acho ao mesmo tempo poético e vibrante (“Voa Beija-Flor...”);
São Torquato - (acho que tem uma segunda parte rica e memorável);
Imperatriz do Forte - que tem uma melodia alegre e uma letra que consegue aliar poesia com a essência do enredo, o Parque Moscoso.
Pronto, fiz um simples resumo do que acho dos meus sambas e podem concordar ou discordar, é minha opinião.
Dessa safra de dez sambas, apenas uma obra se distancia das outras nove em qualidade, mas não vou revelar qual é, mas se vocês escutarem o CD com todos os cuidados, vão perceber isso rapidamente, chamo de samba pula-faixa, você vai escutando o CD com todo carinho, mas na hora que ele começa você passa pra frente.
Os meus três sambas prediletos (excluindo os meus) de 2013 são (pela ordem do CD):
Mocidade Unida da Glória – Gosto muito do samba, repito, do samba. Acho que além da boa (adorei a transposição do enredo), a obra tem dois interessantes refrões e duas passagens que considero geniais, tanto em melodia quanto letra, são elas: “ De quem batalhou, ergueu as velas da coragem. Enfrentou seguiu viagem, contra a ambição” e o trecho, “vencedor e patriarca de tantas gerações, mas é carnaval, vou me entregar, Momo mandou avisar, nesse dia de folia, com alegria, A França eu quero brindar”.
Jucutuquara – Apesar das muitas ressalvas que tenho em relação à letra – por sua inocente transposição do enredo. O Samba é um dos melhores do CD e tem como grande mérito a sempre elogiada atuação de Kleber Simpatia e ser uma obra extremamente empolgante, é confesso, adoro o “Passarão os passarinhos, pra cantar meu sabiá...”
Novo Império – Sempre gostei desse samba, desde a primeira vez que ouvi e ainda era meu concorrente na conturbada disputa de samba da Novo Império, é que após os trágicos acontecimentos – e injustos –, ele venceu, e venceu merecidamente. Acho o samba leve, solto, e sem responsabilidades de tentar ser poético – adoro a maneira com que os compositores usaram a palavra morto-vivo, algo tão importante no enredo –, ao mesmo tempo em que também demonstra trechos de grande qualidade melódica “Oh, Pai. Abençoai o amor em cada irmão, Unindo os povos numa só missão, para viver em harmonia e paz” e também na mesma segunda parte, “é educar, cuidar e vencer. Criança luz de um novo amanhecer”.
É isso amigos. Que venham os aguardados ensaios técnicos (será que vão vir?).
E que Viva o Samba.
* O Colunista Gustavo Fernando é estudante de Comunicação Social, sambista, comentarista de carnaval da Rádio ES AM, compositor e pesquisador de Carnaval.
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