Ficha Técnica
Enredo 2019 – Mocidade Unida da Glória
“Sorrir e Sambar é Só Começar”
Carnavalesco
Osvaldo Garcia
Autores do Enredo
Leonardo Soares e Osvaldo Garcia
Sinopse
Sorrir é gratuito! Para quem pratica, um sorriso não custa nada além de uma rápida
mudança de expressão facial. Já para quem recebe, ele pode ser mais valioso que as mais belas
obras de arte expostas em museus pelo mundo. Não se pode comprar, pedir emprestado,
mendigar e nem mesmo roubar um sorriso. Ele é seu, e você oferece a quem quiser. Acontece
que, por mais que às vezes dure frações de segundos, a sua lembrança pode ser levada para a
eternidade. Por isso, para não fazer feio, toda concentração é bem-vinda na hora de dizer “xis”.
Empurra daqui, se ajeita dali… A pose muitas vezes nem importa na fotografia. Mas um sorriso
estampado é quase uma obrigação. Afinal, a hora da foto é aquele clássico momento em que até
mesmo os mais cabisbaixos se esforçam para estampar uma simpatia e, claro, ficar bem na foto!
Ao mesmo tempo, o sorriso é mistério e fascínio. Ele pode esconder mil faces: alegria,
medo, prazer, diversão, ironia e até os desejos mais ardentes. Ele conquista, torna irresistível,
abre portas para amizades e amores. Mas também pode ter significados negativos, perigosos e
até assustadores. Reza a lenda que o sorriso já nasceu assim, agressivo e irônico, sendo proibido
ainda no Jardim do Éden logo após o primeiro pecado de Adão e Eva. Por esse motivo, passou a
ser perseguido pela igreja, com a justificativa de que foi criado se beneficiando de imperfeições e
das fraquezas humanas.
Mas a “diabolização” do sorriso ainda foi além. Na Idade Média, sorrisões escancarados de
perder o fôlego eram condenados, associados a pessoas loucas, possuídas ou feiticeiras.
Consegue ouvir o riso rouco e intimidador das bruxas? Seres com sorrisos horripilantes
dominavam até mesmo o imaginário de pintores, que retrataram essas criaturas em forma de arte.
Trocando em miúdos: em alguns capítulos da história, os dentes à mostra também já serviram
para apavorar. Mas com o passar dos séculos o sorriso conquistou grande prestígio e virou
sinônimo de bom gosto. Os que ainda assim torciam o nariz para a nova moda, preferindo a falta
de humor e a cara fechada, passaram a ser vistos como doentes ou infelizes.
Ah… Mas quem resiste à apaixonante graça de um belo sorriso? É o método de sedução
mais presente e infalível de todos os tempos, embora os olhos sejam um importante concorrente,
já que também são reconhecidos como as “janelas da alma”. Mas um belo sorriso é diferente.
Como um “mal do bem”, ele contamina e vicia positivamente. Harmoniza, torna a pessoa mais
bonita. Literalmente, apaixona. E por ser uma arma de sedução tão indiscutível, também já se viu
preso a aparelhos dolorosos: as duras regras de etiqueta. Gargalhadas e dentes à mostra? Nem
pensar. O sorriso contido, o “quase rir” de Monalisa, era visto como belo, sociável, e, claro,
também era um trunfo para camuflar a falta de higiene bucal, naquele período.
O sorriso, além foi e ainda é uma das mais importantes formas de se comunicar com
alguém. Talvez por esse motivo, ganhou significados e utilidades por onde passou esbanjando
seu charme. Na Índia, o sorriso dá leveza à alma como Terapia do Riso. Na Indonésia, exóticos
sorrisos pontudos são usados para saudar e reforçar tradições. No Japão, por muito tempo, os
sorrisos eram parte essencial das regras de um casamento, onde somente o homem poderia sorrir
em público, e as mulheres deveriam esconder o sorriso com as mãos ou leques para não “expor
intimidades”. Por lá, também foi símbolo de fortaleza, quando os samurais pintavam seus dentes
de preto e sorriam nas batalhas para intimidar inimigos com o aspecto de dentes podres e
monstruosos. Já na França, sorrir para um desconhecido pode soar como estúpido e até
inconveniente. Essa cultura do sorrir limitado pode parecer soberba. Vai entender. Só rindo,
mesmo…
Aqui no Brasil, esse jovem de quinhentos e poucos anos, debaixo da sua tenda formou-se
um dos povos mais felizes do mundo. Povo resiliente que resiste bravamente às dores da sua
história. Por aqui, um sorriso negro e um abraço negro nem sempre trouxeram felicidade. Os
sorrisos forçados existiram como moedas de grande valia quando os negros eram obrigados a
sorrir para expor os dentes e, assim, aumentar seu valor no mercado de escravos. Há mais de
500 anos, ainda juntamos os farrapos para fazer parte deste grande circo Brasil. Até hoje as
piadas de mal gosto ainda expõem nossos sorrisos sem graça. É no samba que encontramos a
solução de alguns desses males, sorrir transforma nosso pranto em carnaval. Então, como bem
aconselhava Cartola, “A sorrir eu pretendo levar a vida…”. E como tudo se transforma quando a
gente mostra os dentes, “Sorria, meu bem. Sorria!”.
Entregue seu melhor sorriso, vista-se da mais pura felicidade, caia na folia. O samba
transforma qualquer tristeza em alegria. É no samba que mora o sorriso, e a gente sabe disso
desde nosso primeiro desfile, como escola de samba, quando cantamos o nosso sonho de
felicidade desfilando “O Reino Onde Chorar é Proibido”. E sinta-se em casa na Mocidade Unida
da Glória. Em nosso Reino qualquer desejo é possível, nenhuma esperança é desperdiçada e
nenhum sorriso é contido. Abram alas para os nossos sonhos coloridos, somos da MUG, onde
chorar é proibido.
“A ordem do Rei é ver toda moçada sorrir
Quá quá, quá quá, quá quá, quá quá
Olha o palhaço na rua, hoje tem marmelada
Se o negócio é gargalhada
Vamos todos gargalhar
E neste encantado lugar torna realidade
O nosso sonho de felicidade
Abre alas pro meu sonho colorido
Sou do MUG, sou do reino onde chorar é proibido!”
(O Reino Onde Chorar É Proibido. MUG 1984)
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